Muitos brasileiros têm a péssima mania de achar que o que existe em nosso País não é bacana o suficiente se compararmos com outros locais. Certamente, não podemos generalizar, mas não entendo os que ficam maravilhados com os museus da Europa sem antes conhecer o MASP. Sim, o museu que fica na Avenida Paulista (SP) é um dos mais importantes do mundo e seu acervo, um dos mais representativos com seus 10 mil itens.

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O MASP é um dos quatro museus do planeta que possui o conjunto de bronze de Edgar Degas (1834-1917), estando no mesmo patamar de destaque que o Metropolitan (Nova York), o Musée d’Orsay (Paris) e Glyptotek (Copenhague). Com a exposição ‘Degas’, o MASP mostra 76 obras do artista que não eram apresentadas na totalidade ao público há quase quinze anos. Essas obras foram adquiridas na década de 1950, no período pós guerra, sob coordenação de Pietro Maria Bardi (1900-1999), diretor fundador do museu e grande responsável por conseguir comprar alguns dos maiores tesouros artísticos da humanidade.

Degas sempre foi um artista à frente de seu tempo, inovador e disruptivo por retratar diferentes lugares e perspectivas não exploradas por outros pintores de sua época. Agora, na exposição do MASP, seu trabalho ganha um novo olhar, destacando a perspectiva social e política de sua obra. Fernando Oliva, curador do MASP há seis anos, explica que a obra de Degas sempre se manteve em um lugar de ambiguidade, entre a tradição e a modernidade. Seu caráter inovador para a época fica claro nos trabalhos expostos, especialmente na Bailarina (1880), sua obra mais icônica. Segundo ele, Degas não pretendia representar uma jovem de quatorze anos, mas, sim, uma adolescente trabalhando arduamente para se tornar uma bailarina da Opéra de Paris. Pouco se sabe da vida daquela menina, mas é fato que Marie van Goethem era filha de uma lavadeira e de um alfaiate e que os problemas financeiros podem ter sido o motivo de seu ingresso na prostituição.

A exposição destaca o papel da mulher trabalhadora no século XIX, detalhes da sociedade da época e explora o universo da dança, tema que esteve presente em um terço das obras produzidas por Degas. A releitura de seu trabalho é feita por Sofia Borges, talentosa fotografa brasileira que registra com sutileza os detalhes das obras que muitas vezes passam desapercebidos. Fotos em preto e branco de diferentes tamanhos e ângulos foram instaladas nos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi e em grandes painéis que completam as paredes.

Quem visita a exposição, poderá mergulhar no universo de Degas. Para despertar a curiosidade de todos, apresento aqui dez curiosidades sobre esse artista que mudou o rumo da arte com seu trabalho totalmente inovador:

1 – Rejeitava o rótulo de impressionista – Ele preferia ser identificado como realista, apesar de ter assumido um papel de liderança na organização das Exposições Impressionistas e ser um dos fundadores desse movimento artístico.

2 – Ele pensava que iria registrar a história – Degas estudou na prestigiosa École des Beaux-Arts. Seu ídolo era o neoclássico francês Jean-Auguste-Dominique Ingres, mas ele decidiu deixar de lado a pintura de temas históricos para registrar cenas da vida moderna, como o balé, a ópera ou até mesmo cenas íntimas de mulheres tomando banho.

3 – Degas era rico, mas passou por problemas financeiros Ele era um membro abastado da alta burguesia. A partir de 1874, com a morte de seu pai, descobriu dívidas comerciais de seu irmão, tendo que vender a casa da família e a coleção de arte que tinha herdado.

4 – A arte japonesa – Como muitos impressionistas, ele foi influenciado pela arte japonesa. Ele abstraiu da estética japonesa os elementos que considerou mais atraentes, particularmente suas composições assimétricas, perspectivas inventivas e delineamento do espaço com linha e cor.

5 – Problemas de visão – Aos 36 anos, começou a apresentar problemas visuais, que se agravaram ao longo de vida. É quase inacreditável ver sores em suas obras, sendo que ele tinha um grave problema na retina que dificultava a distinção de cores e aumentava sua sensibilidade à luz. Por isso, optou por trabalhar em ambientes fechados, como o balé e a ópera. Aos 57, não conseguia mais ler e passou a pintar com traços mais amplos e cores mais fortes, assim como experimentar uma ampla variedade de mídias, incluindo pastéis, fotografia, gravura e escultura. Por causa da visão, ele andava sempre com uma bengala, fazendo um estilo único com seu sobretudo e com um chapeuzinho redondo.

7 – Pioneiro – A obra “A Cotton Office in New Orleans” (1873) foi a primeira pintura de um impressionista adquirida por um museu. Foi exibida na Segunda Exposição Impressionista em Paris em 1876 e vendida para o Musée des Beaux-Arts de Pau em 1878.

8 – Bordel – No final dos anos 1800, as dançarinas eram de origem pobre e entravam na academia ainda crianças para sustentar suas famílias. Lá, ficavam à mercê da cultura de bordel implacável da Opéra e de homens ricos com o poder definir seus futuros. O fascínio de Degas pelos bastidores é aparente em “L’Étoile” (1879), onde uma figura parcialmente obscurecida em um smoking preto espreita atrás da jovem bailarina que está no palco. Visto neste contexto, seus retratos adquirem mais uma camada de profundidade psicológica.

9 – Cavalos e dança – Degas gostava de registrar o movimento, seja na dança ou nas corridas de cavalos, que inclusive estão na exposição do MASP. Retratava também cenas cotidianas da vida na época. Produziu uma extensa série de mulheres tomando banho, que eram notáveis ​​por sua falta de autoconsciência e estudos da forma humana. Ele era fascinado pela fisionomia.

10 – Fotografia – Entre 1880 e 1890, Degas desenvolveu uma paixão pela fotografia. Fez fotos de dançarinos, nus, retratos de amigos e familiares (incluindo o registro de Renoir com Mallarmé), além de autorretratos. Suas fotos são interessantes por explorar apenas uma única fonte de luz, fazendo que os personagens parecessem emergir da escuridão. Portanto, bem interessante a releitura que o MASP faz agora de suas obras por meio da fotografia.

Não se sabe se foi pelos problemas de visão, mas Degas tornou-se cada vez mais recluso ao longo de sua vida, chegando a ser classificado como misantropo, rabugento e misógino. Pierre-Auguste Renoir chegou a dizer certa vez que todos os amigos tiveram que deixá-lo e que ele era um dos últimos a ir, pois nem ele conseguiria ficar perto até o fim. Degas morreu em 1917, sem filhos e sozinho.

Portanto, não perca tempo: saia de casa, use máscara, leve álcool gel e programe sua ida ao MASP. O agendamento online obrigatório pode ser feito pelo link masp.org.br/ingressos. Às terças-feiras a entrada é gratuita. A coluna de hoje é dedicada à Gabriela Araujo, que trabalha brilhantemente na divulgação da arte. Se tiverem uma boa história para compartilhar, por favor lembre de mim. Aguardo sugestões pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou no Twitter.