O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a “desconfiança” não pode orientar o acordo comercial entre União Europeia (UE) e Mercosul, e lamentou as exigências ambientais dos europeus, após uma reunião nesta segunda-feira (12) com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

O Mercosul – formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – chegou a um acordo comercial com a UE em 2019, depois de mais de 20 anos de negociações. Contudo, o texto não foi ratificado, em parte devido à preocupação europeia com as políticas ambientais do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O clima melhorou com a volta de Lula ao poder em janeiro, mas as exigências ambientais dos europeus, presentes em um documento adicional ao acordo apresentado recentemente pela UE, diminuíram o entusiasmo.

“Expus à presidenta Von der Leyen as preocupações do Brasil com o instrumento adicional ao acordo apresentado pela UE”, disse Lula, em entrevista aos jornalistas ao lado da dirigente europeia no Palácio do Planalto em Brasília.

Segundo Lula, esse documento “amplia as obrigações do Brasil e as torna objeto de sanções em caso de descumprimento”.

“A premissa que deve existir entre parceiros estratégicos é a da confiança mútua e não de desconfiança e sanções”, destacou o líder brasileiro.

Além disso, Lula criticou leis europeias que têm “efeitos extraterritoriais e que modificam o equilíbrio do acordo”.

Um exemplo é a legislação sancionada em abril que proíbe a importação para a Europa de cacau, café, madeira e soja, entre outros produtos, procedentes de áreas que foram desmatadas.

“Essas iniciativas representam restrições potenciais às exportações agrícolas e industriais do Brasil”, acrescentou Lula.

Von der Leyen, por sua vez, disse que a UE espera “ansiosa” a resposta de Brasil para suas propostas ambientais e manifestou sua esperança de que o acordo entre os blocos seja ratificado “o mais tardar no fim deste ano”.

Von der Leyen iniciou hoje no Brasil uma viagem pela América latina que também a levará para Argentina, Chile e México, uma semana depois de a Comissão Europeia aprovar uma agenda para renovar as relações com os países latino-americanos e caribenhos.

Ao lado de Lula, a titular do órgão executivo da União Europeia anunciou a intenção do bloco de contribuir com 20 milhões de euros (cerca de R$ 105 milhões) para o Fundo Amazônia, criado em 2008 para preservar a porção brasileira da maior floresta tropical do mundo.

A dirigente europeia também prometeu investimentos em projetos contra o desmatamento e o desenvolvimento de energias renováveis.

rsr/app/rpr/am