Amanda Barroso ostenta seu cabelo crespo coberto por uma pasta azul na entrada do Museu de Artes do Rio (MAR), que na terça-feira se transformou em um salão de beleza a céu aberto para que os participantes ‘nevem’ o cabelo e curtam o carnaval.

Sob o sol quente do meio-dia, alguns esperam para que a água oxigenada faça efeito enquanto outros aguardam sua vez para retocar a tinta desbotada ou platinar por completo o cabelo e, até mesmo, a barba e o bigode.

“O prateado é um símbolo tanto nas favelas quanto na autoestima do povo negro e que sempre foi uma cor que foi negada”, diz Amanda, iluminadora de teatro de 21 anos.

Enquanto se ouve funk nas caixas de som, alguns fazem selfies com pedaços de papel alumínio ou uma toalha na cabeça. Outros se refrescam nas 14 piscinas de plástico instaladas no museu como parte da intervenção.

“Descoloração global” é um projeto de Maxwell Alexandre, um artista plástico e ativista que nasceu e cresceu na favela da Rocinha, a maior do Rio.

Funciona como um espaço de experimento e de encontro, mas também como uma declaração contra a estigmatização da qual muitos jovens das favelas são vítimas, explica Alexandre, de 34 anos.

A ideia nasceu de seu fascínio pela visão das pessoas negras com cabelo platinado.

“Para mim, um preto de cabelo loiro sempre foi algo muito estético, então era algo que eu queria fazer desde quando eu era menor, mas estava muito associada à criminalidade, né? E às facções nas favelas, então era algo um pouco perigoso”, conta à AFP em meio ao alvoroço.

Para ele, é “uma afirmação de liberdade frente a qualquer estigma que possa aprisionar o corpo preto”.

– “Um ritual de celebração” –

Desde a semana passada, o carnaval tomou conta da cidade, com os desfiles dos blocos de rua, e a expectativa para os desfiles das escolas de samba no próximo domingo e segunda-feira.

O salão temporário na entrada do MAR, na Praça Mauá, também é uma proposta lúdica, “um ritual de celebração”, diz Maxwell.

Por isso ocorre justo antes do carnaval ou do “reveillon”.

A primeira experiência foi em 2019, mas se repetiu por vários anos. Uma vez chegou a descolorir cerca de mil cabeças, segundo os organizadores.

Luiz Antonio de Nascimento, um funcionário público de 33 anos que aproveitou para reforçar o seu platinado, valoriza a “chance de trazer no local uma atividade que é muito marginalizada num outro lugar, dentro de um espaço de arte, de ressignificar a visão da arte e ressignificar alguns aspectos culturais que são colocados à margem da cultura oficial brasileira.”

Enquanto a equipe de cabeleireiros passa a tinta e lava os cabelos, uma senhora de 70 anos, com cabelos meio acobreados e meio brancos, pergunta, curiosa, o que está acontecendo.

Algo lhe diz que o que eles oferecem de graça aqui pode interessá-la.

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