Com dois anos e meio de investigações, a Lava Jato revelou que mecanismos clássicos de lavagem, como o uso de “laranjas” para ocultar bens, perderam espaço para formas mais sofisticadas de transformar dinheiro sujo em dinheiro, aparentemente, lícito. “Ganhamos grande experiência com aquilo que podemos definir como uma enciclopédia de métodos de lavagem de dinheiro”, disse o chefe do Escritório de Investigação da Receita, em Curitiba, Roberto Leonel de Oliveira Lima.

Doação de empreiteira para igreja, doações partidárias e eleitorais oficiais, operações de câmbio para falsas importações, contratos de mútuo fictícios, empréstimo bancário fraudulento, contratos de consultorias e prestação de serviços fantasmas, compra de empresas falidas, contas em nome de empresas offshores, trustes e até a compra de um banco em paraíso fiscal integram os volumes dessa enciclopédia que será deixada pela Lava Jato.

“Começamos investigando contratos de câmbio de falsas importações, depois encontramos muitos contratos de prestação de serviços simulados que dissimulavam e ocultavam pagamentos de vantagens. Ficou bem forte o uso de contratos de mútuo para justificar transferência de valores. Mais à frente, vieram as doações que pareciam ser lícitas, mas que são situações ilícitas e que eram registradas na contabilidade das empresas”, disse o auditor, que chefia a área de inteligência da Receita no centro nervoso da Lava Jato.

São os auditores fiscais que produzem os relatórios de evolução patrimonial, movimentações financeiras e fiscais dos investigados. Só em propinas a políticos, partidos, diretores e gerentes da Petrobrás foram identificados R$ 6,4 bilhões movimentados ilegalmente, informa laudo da Polícia Federal, em Curitiba. Ao todo, são analisados R$ 214 bilhões em contratos de 28 empreiteiras com a Petrobrás, entre 2004 e 2014.

Caminho

Seja em espécie ou em transferências bancárias, o dinheiro da corrupção precisa ser lavado – é o chamado branqueamento de recursos. Para isso, o dinheiro percorre, em regra geral, um percurso clássico em três etapas: injeção dos recursos no sistema bancário e financeiro legal, o afastamento da origem e o retorno para o beneficiário – muitas vezes em forma de aquisição de bens, como imóveis, carros, barcos e obras de arte.

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O doleiro Alberto Youssef é um exemplo da modernização dos métodos de lavagem. Os negócios de Youssef no câmbio negro começaram em 1992, conforme ele mesmo disse em 2004 ao juiz Sérgio Moro, nos autos da Operação Farol da Colina – que apurava megaesquema de lavagem mantido por doleiros, revelado no caso Banestado.

Pego na Lava Jato, a especialidade da lavanderia do doleiro já era criar empresas de fachada, no Brasil e exterior, para simular importações, movimentando recursos ilegais por operações de câmbio autorizadas pelo Banco Central.

O caso da doação de R$ 300 mil da empreiteira OAS sob forma de doação – descoberta na fase que levou à prisão do ex-senador Gim Argello, em abril, por receber propina para abafar a CPI da Petrobrás em 2014 – é o caso considerado mais peculiar para a Receita.

O dinheiro repassado à entidade é misturado com a movimentação de dinheiro em espécie da igreja, arrecadada com o dízimo. Sem a confissão de envolvidos, essa rastreabilidade é quase impossível. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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