Nada indica que a mais grave crise política do Brasil republicano vá se encerrar com o resultado final da eleição presidencial. Uma crise estrutural não encontra solução apenas em um pleito. Pode ocorrer justamente o contrário. Esta é a tendência e fatos não faltam que justifiquem essa hipótese.

Jair Bolsonaro deve vencer Fernando Haddad por larga margem. É provável que em termos absolutos seja a maior vitória desde a adoção do segundo turno. A vontade de mudança é o principal fator da eleição de 2018. Basta ver o que ocorreu tanto na Câmara como no Senado. Teremos um novo Congresso Nacional. A dúvida é se essa profunda renovação permitirá o estabelecimento de novas relações políticas no interior das duas Casas e entre o Legislativo e o Executivo. Ou se logo a frustração vai se abater sobre o eleitorado tão sequioso de práticas republicanas, inovadoras e que possibilitem rapidamente uma transformação política.

O presidente eleito necessita apresentar uma mensagem de serenidade, equilíbrio e paz. Mostrar que a eleição já passou. Que agora pretende ser presidente de todos os brasileiros. Não será tarefa fácil. Com a personalidade que tem, acrescido dos assessores e filhos destemperados, o cenário é de que a cada semana haverá uma crise para ser debelada. E com reflexos negativos na relação entre os poderes e uma sinalização desfavorável para o mercado. Tudo isso muito antes da posse, a 1º de janeiro de 2019.

A formação do ministério e a nomeação dos milhares de cargos sob responsabilidade presidencial deverá abrir uma luta encarniçada no interior do grupo mais próximo de Bolsonaro. Como contentará grupos antagônicos que o apoiam? Os estatistas — como os militares — vão se compor com os privatistas — sob a batuta do poderoso ministro Paulo Guedes? Os ministérios vão ser reduzidos? Haverá a fusão de pastas complexas como a da Agricultura com a do Meio Ambiente? E os bancos e empresas estatais, como serão dirigidos?

O novo governo pretende sinalizar logo no seu início o compromisso com as reformas (quais?). Obter a maioria qualificada, exigida pela Constituição, não será tarefa fácil. Que tipo de negociação haverá entre o Executivo e o Legislativo? Cargos farão parte desse acordo? E a eleição das mesas diretoras das duas Casas, o governo vai ter algum tipo de interferência? E o PSL será o partido-âncora do governo? Tem unidade para tal?

A formação do ministério e a nomeação dos milhares de
cargos 
sob responsabilidade presidencial deverá abrir uma
luta no interior do grupo mais próximo de Bolsonaro