O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, insiste em que o voto pelos correios causará uma “fraude em massa”. Embora para muitos este risco seja baixo, vários problemas logísticos podem atrasar o resultado da eleição presidencial de 3 de novembro.

Para evitar uma possível exposição à COVID-19 nos locais de votação, muitos estados enviarão as cédulas pelos correios para a população, que, então, terá de enviá-las com seu voto para as seções eleitorais.

Esse voto já era possível em vários estados e, nas eleições presidenciais de 2016, quase 25% dos votos (33 milhões) foram emitidos por correspondência.

Desta vez, porém, “devemos ter entre 50 e 70 milhões de votos pelos correios”, estima Nathaniel Persily, professor de direito da Universidade de Stanford, na Califórnia.

“Esta é a maior transformação do sistema eleitoral na história e se faz em quatro meses. É algo sem precedentes e implica sérios desafios”, explica à AFP.

Trump diz que a eleição será um “desastre” e uma “armadilha” sem precedentes.

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“Milhões de folhas de votação serão impressas no exterior”, disse ele em junho e, na semana passada, estimou que haverá atrasos na apuração.

Salvo por alguns incidentes isolados, nenhum estudo sério registrou grandes fraudes ligadas ao voto pelos correios. E, em uma reunião da Casa Branca, os serviços de Inteligência descartaram o risco de folhas falsas impressas fora dos Estados Unidos, segundo a CNN.

– “Paciência” –

“Esse método é seguro e inclui medidas para verificar a autenticidade dos votos”, garantiu Amber McReynolds, que dirige o National Vote at Home Institute, no Congresso na terça-feira.

Trump, que inclusive já votou pelos correios, “pode estar tentando pôr em dúvida a legitimidade das eleições para obter vantagem política”, observa Rick Hasen, especialista em questões eleitorais da Universidade de Irvine.

O voto pelos correios é mais amplamente usado pelos eleitores urbanos, demograficamente próximos dos democratas.Em plena pandemia da COVID-19, isso pode aumentar a participação de pessoas mais velhas, que parecem preferir o candidato democrata Joe Biden.

Para Rick Hasen, Trump, que segue atrás nas pesquisas, “pode estar procurando uma desculpa, caso perca a eleição”.

Para além de suas próprias motivações, os ataques de Trump podem ter algum eco, se a eleição se tornar caótica.

“A maioria dos estados não está pronta”, avalia Nathaniel Persily.

“Não têm material e equipamentos, e os serviços postais estão em tensão”, o que pode impedir que os votos cheguem a tempo aos lares, mas também aos centros de apuração, segundo ele.


Os eleitores devem se armar de “paciência”, porque existe o risco de que os resultados definitivos demorem a ser anunciados, acrescenta ele.

– “Ameaça existencial” –

“As profundas divisões políticas e os bloqueios, tanto no Congresso como em nível local, deixaram os estados realmente com dificuldades”, estima Edward Foley, professor de direito da Universidade de Ohio.

Para ele, pode-se esperar pelo pior em estados-chave como Wisconsin, Pensilvânia, ou Michigan, que estão pouco acostumados a votar pelos correios e onde os resultados podem ser muito ajustados e levar a ações judiciais e a polêmicas recontagens.

Todos se lembram do cenário catastrófico de 2000, quando o resultado da eleição presidencial entre Al Gore e George W. Bush foi definido por centenas de votos no estado da Flórida e concluído quando a Suprema Corte de Justiça se recusou a ordenar uma nova contagem. Al Gore aceitou a derrota sem questionar o resultado.

“Hoje vivemos em um tempo muito diferente, com muito mais amargura entre as partes”, diz Persily. Desta vez, completou, “não é de se esperar que o perdedor aceite o resultado e vá embora tranquilamente”.


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