Equipes de vela de diferentes países têm se esforçado nos últimos dois anos para desvendar a Baía de Guanabara e se preparar para os Jogos do Rio. A menos de um mês da Olimpíada, ainda tentam compreender o sistema de correntes e os ventos que tornam o local um dos mais difíceis para competição. Os velejadores singram as sete rotas de regata possíveis, alguns com a ajuda de meteorologistas. Na reta final, intensificam os treinos.

“A navegação dentro da baía é bem complicada. Para estar realmente preparado para os Jogos temos de fazer o dever de casa. Os velejadores acreditam que seja mais difícil navegar dentro da baía. Você tem que estar muito esperto”, afirmou o polonês Marek Chocian, de 51 anos. Ele participou dos Jogos de Barcelona-1992 e Atlanta-1996 e é um dos técnicos da Alemanha. Adotou a estratégia de organizar regatas de treino, de até três dias, em cada uma das raias da baía. Também já treinam na Baía equipes da Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Dinamarca e Bélgica.

A equipe suíça passou 150 dias no Rio, em diferentes temporadas, e ainda se surpreende com as correntes. “A vela é o único esporte olímpico em que você precisa vir com tanta antecedência para conhecer as condições. Os outros atletas chegam até dois dias antes da competição”, afirmou o argentino Sebastián Peri, de 28 anos, treinador da categoria 470 M da Suíça.

“A condição do vento é muito complicada porque tem muito morro em volta. A corrente também é complicada porque é uma baía muito fechada. O lado esquerdo tem correntes numa direção, com determinada intensidade. E na direita tem outra totalmente oposto. Tivemos que fazer um estudo grande para entender”, disse Peri, que não teve tempo nem sequer de conhecer os pontos turísticos mais famosos do Rio, como o Pão de Açúcar e Cristo Redentor.

Também tem sido com esse afinco o treino da italiana Silvia Zennaro, de 26 anos, campeã europeia em 2011 na classe Laser Radial. Na quinta visita à cidade, ela chegou ao Rio às cinco horas, de 5 de julho, e às 17 horas do mesmo dia já estava treinando. “É difícil compreender a baía, navegando dentro da baía, você tem vento, e fora não tem vento nenhum. Você dá o seu melhor o tempo todo”.

Na primeira vez no Brasil, em dezembro de 2014, passou por maus momentos. Logo depois dos primeiros treinos, sofreu cinco dias com gastroenterite. “Na minha segunda vez, passei a viagem de volta inteira no banheiro do avião. Mas agora está tudo bem. Acho que estou mais resistente”, ela disse.

A preocupação com a contaminação da água e o lixo flutuante é constante na conversa entre os atletas. “Não tive acidente com danos no barco, mas por várias vezes tive de retirar sacos plásticos e lixo”, afirmou o italiano Giorgio Poggi, de 34 anos, que vai competir na classe Finn. “O período que nós estamos agora é melhor do que o verão. É mais seco, tem menos chuva e isso talvez explique porque vemos menos lixo na água. Mas o que nos preocupa é a qualidade da água. Temos tentado evitar o contato”, afirmou Chocian.

Por mês, 12 ecobarcos têm retirado cerca de 40 toneladas de lixo flutuante da Baía de Guanabara. Com atraso, o governo instalou 17 ecobarreiras na foz de rios e canais que deságuam na baía. Um software, que leva em consideração a previsão das marés, correntes e previsão meteorológica, ajudará a identificar possíveis locais com lixo flutuante para evitar que atrapalhem as provas.

“Uma força-tarefa atuará no monitoramento do espelho d’água da Baía de Guanabara visando a garantia das plenas condições de competição nas raias olímpicas”, informou a Secretaria de Estado do Ambiente.