O PT inscreve nesta quarta-feira (15), em Brasília, a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), líder histórico do partido preso desde abril, jogando seu futuro em um desafio que também põe à prova a solidez institucional do país.

Vindos de várias partes do Brasil, milhares de simpatizantes do ícone da esquerda vão marchar até a sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para acompanhar os membros do PT que vão efetivar no último dia do prazo sua improvável postulação às eleições de 7 de outubro, com um eventual segundo turno no dia 28.

Entre eles estará o eleito de Lula para vice, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, visto por muitos como o potencial substituto caso seja impugnada a candidatura do ex-presidente. Desde abril, Lula cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Aos 72 anos, Lula é o favorito nas pesquisas, com cerca de um terço das intenções de voto, quase o dobro de qualquer um dos outros 12 candidatos.

Mas a candidatura do ex-presidente muito provavelmente será invalidada, segundo juristas, pois a Lei da Ficha Limpa, promulgada sob seu governo, torna inelegível condenados em segunda instância, seu caso.

O TSE, que tem até 17 de setembro para o futuro de Lula, vai durar alguns dias, senão semanas, para decidir.

Haddad pediu na terça-feira que a candidatura de Lula seja analisada com critério e acusou adversários de Lula e a imprensa de estarem “fazendo pressão”.

Se a candidatura de Lula for de fato impugnada, o PT teria, então, pouco tempo para fazer campanha por Haddad, com a incógnita de se conseguiria transferir para ele os votos do carismático ex-presidente.

Uma aposta, segundo analistas, que é muito arriscada.

Para o cientista político Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva, o que está em jogo com essa estratégia “é o futuro do PT como o principal representante da centro-esquerda no Brasil”.

“Dificilmente o Haddad ganhará esta eleição”, mas “o PT apresentará sua nova cara para os próximos pleitos”.

Ou ficará sem nenhuma…

O PT soma reveses desde a destituição da presidente Dilma Rousseff pelo Congresso em 2016, seguida de uma contundente derrota nas eleições municipais daquele ano e da prisão de muitos de seus líderes históricos, incluindo a de seu cofundador.

– 2.000 km por Lula –

Acampados desde terça-feira em um terreno baldio ao lado do estádio Mané Garrincha, cerca de 4.000 manifestantes, segundo dados da Polícia Militar do Distrito Federal, vão marchar nesta quarta-feira por 6 km em direção ao TSE, em apoio a Lula.

O ex-presidente foi condenado como beneficiário de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, oferecido pela construtora OAS em troca de sua mediação em contratos com a Petrobras.

Ele enfrenta outros cinco processos, mas se declara inocente em todos e denuncia uma perseguição político-judicial para impedi-lo de voltar ao poder.

E seus partidários acreditam.

Adrovando Brandão, microempresário de 40 anos, viajou mais de 2.000 quilômetros de ônibus de São Luís, no Maranhão, até a capital para defender a candidatura de Lula, que tem voto garantido nas classes pobres e médias, sobretudo no nordeste do Brasil.

“O Lula é nosso único candidato. Em cabeça de juiz pode passar qualquer coisa. Hoje, o nosso Judiciário é preso a interesses, externos e internos. Mas amanhã vai ser um grande dia pela democracia”, acrescentou.

Como exemplo, Brandão mencionou o imbróglio judicial que o país viveu em 8 de julho, com uma série de ordens e contraordens para soltar Lula, que terminaram deixando o ex-presidente atrás das grades.

Na semana passada, uma dezena de juristas europeus, entre eles o ex-juiz anticorrupção espanhol Baltasar Garzón, expressou sua “preocupação” com as “sérias irregularidades” na condenação de Lula, em carta dirigida à presidente do Supremo, Cármen Lúcia.