O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, avaliou nesta quinta-feira, 22, que efeitos defasados dos juros, junto com a redução da safra agrícola, apontam para uma desaceleração da atividade econômica neste ano. Porém, ele considera que a perda de tração econômica representa uma situação mais conjuntural, já que forças estruturais seguem sustentando a demanda.

Entre as forças que geram resiliência do consumo, Galípolo citou a nova política de reajustes do salário mínimo e o reforço do Bolsa Família, além da contribuição positiva à renda vinda da queda da inflação e dos juros.

“Pode ter redução de crescimento conjuntural, mas com forças que apresentam resiliência do ponto de vista estrutural”, declarou o diretor do BC, durante evento na capital paulista da Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil.

Na avaliação de Galípolo, o setor externo pode contribuir menos ao crescimento, porém o saldo comercial, em especial a posição do Brasil de exportador líquido de petróleo, segue favorecendo uma situação privilegiada das contas externas no enfrentamento de choques internacionais, se comparada ao quadro de três ou quatro décadas atrás.

O ponto de maior atenção, pontuou o diretor do BC, está no baixo nível, já há anos, dos investimentos, que refletem as incertezas do cenário internacional e também os efeitos do ciclo anterior de aperto monetário.

Apesar disso, Galípolo considerou que, em meio à reorganização das cadeias de produção, o Brasil, por suas vantagens comparativas na transição energética, está em situação privilegiada para atrair investimento, aumentar seu estoque de capital fixo e ganhar produtividade.

Em paralelo, Galípolo voltou a dizer que o diferencial da Selic frente aos juros dos Estados Unidos, ainda que em patamar historicamente baixo, segue atrativo na comparação com outras alternativas de investimento em mercados emergentes, permitindo uma menor volatilidade do câmbio.

O diretor do BC observou que US$ 6 trilhões tendem a sair dos Estados Unidos quando o país começar a cortar seus juros. “Cabe ao Brasil se apresentar como uma oportunidade atrativa”, salientou Galípolo. “Mesmo se o cenário internacional ficar mais adverso, o Brasil fica mais interessante frente a seus pares. Se não temos muita coragem de dizer que o pior já passou, estamos mais confiantes em dizer que estamos em situação melhor do que estávamos e se imaginava no passado”, concluiu.