O líder da oposição queniana, Raila Odinga, 72, prometeu neste domingo que não se renderá até que seja reconhecida a sua vitória nas eleições presidenciais, vencidas, segundo a comissão eleitoral, pelo presidente Uhuru Kenyatta, enquanto aumentava a pressão para que ele acalmasse seus simpatizantes.

Em sua primeira aparição pública desde sexta-feira à noite, Odinga também pediu a seus simpatizantes para não irem trabalhar nesta segunda de manhã, após a pressão da comunidade internacional para que ele interviesse no sentido de arrefecer os ânimos no período pós-eleitoral, em que distúrbios já deixaram 16 mortos desde sexta-feira.

Ele anunciou que irá explicar na próxima terça-feira “o caminho a seguir” por seu partido político, e assinalou: “Ainda não perdemos. Não cederemos”, insistiu em Kibera, subúrbio de Nairóbi, reduto da oposição.

Confrontos violentos foram registrados hoje na comunidade de Mathare, subúrbio de Nairóbi, entre membros da etnia kikuyu, ligada ao presidente reeleito, Uhuru Kenyatta, e integrantes da etnia luos, partidários do opositor derrotado nas urnas.

A violência irrompeu depois que os luos incendiaram estabelecimentos de comerciantes kikuyus, provocando uma batalha campal entre ambos os grupos. Dois homens morreram, segundo dois fotógrafos da AFP.

Os incidentes ocorreram após uma visita de Odinga a Mathare para se encontrar com a família de uma menina de 9 anos que morreu baleada na manhã de ontem quando estava na varanda no quarto andar de um prédio.

Antes, Odinga visitou o subúrbio de Kibera, onde, frente a milhares de partidários, afirmou que não aceitaria os resultados da eleição presidencial, “roubada”, segundo ele, por Kenyatta.

“Ainda não perdemos. Não baixaremos a guarda. Esperem que anuncie o que deve ser feito, depois de amanhã”, assinalou.

Kenyatta foi reeleito presidente na noite de sexta-feira, para um segundo mandato de cinco anos, com 54,27% dos votos, frente a 44,74% de Odinga, segundo resultados oficiais. A oposição questiona os números.

Após o anúncio da vitória de Kenyatta, houve cenas de violência e saques em redutos da oposição, no oeste do país e nos subúrbios de Nairóbi, com um saldo de 16 mortos até a noite deste sábado, segundo um balanço da AFP.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, instou Odinga a enviar “uma mensagem clara a seus simpatizantes para que se abstenham de recorrer à violência”. União Europeia e Reino Unido também fizeram um apelo por moderação, e felicitaram Kenyatta por sua vitória.

– Contexto político distinto –

A coalizão opositora, Nasa, afirma que Odinga venceu as eleições, cujo resultado responde, segundo ela, a uma manipulação eletrônica do sistema de transmissão da contagem de votos usado pela comissão eleitoral. Mas descartou recorrer à Suprema Corte, como fez, em vão, em 2013.

A derrota deste ano é a quarta em eleições presidenciais sofrida por Odinga, após as de 1997, 2007 e 2013.

Embora a repressão policial esteja sendo firme, o ministro do Interior, Fred Matiangi, garante que a polícia não lançou mão do “uso desproporcional da força contra nenhum manifestante, em nenhum lugar do país”.

Na manhã deste domingo, em Mathare, um dos subúrbios de Nairóbi mais afetados pela violência, comerciantes reabriam suas lojas.

“Queremos ouvir o que Raila tem a dizer. Será ele que nos guiará. Se nos disser para sair às ruas, sairemos. Se quiser que fiquemos em casa, ficaremos”, declarou o cabeleireiro de Humpfrey Songole, 25, horas antes de Odinga se pronunciar em Kibera.

Os distúrbios atuais diferem do conflito de 10 anos atrás, que deixou mais de 1,1 mil mortos e 600 mil deslocados. Apesar de refletirem antigas divisões tribais, no momento estão circunscritos aos redutos da oposição.

O contexto político também é diferente: após as eleições de 2007, a maioria dos confrontos opuseram os kikuyu de Kenyatta aos kalenjin, etnias atualmente aliadas. De fato, o vice-presidente William Ruto é um kalenjin.

Atualmente, apenas a etnia luo, à qual pertence Odinga, parece estar mobilizada.