Derrite troca cargos de comando na Polícia Civil em meio a crise na segurança em SP

Guilherme Muraro Derrite e Tarcísio de Freitas
Tarcísio de Freitas (à direita) ao lado do secretário e ex-PM Guilherme Derrite Foto: Marcelo S. Camargo/Governo do Estado de SP

Pressionado por casos recentes de violência policial e afastamento de agentes, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, promoveu novas trocas em departamentos centrais da Polícia Civil.

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Foram designados novos chefes para importantes setores, como o Dipol (Departamento de Inteligência da Polícia Civil) e Dap (Departamento de Administração e Planejamento) da corporação. As informações foram publicadas pelo portal G1 e confirmadas pelo jornal O Estado de S. Paulo.

As mudanças, porém, não incluíram membros da alta cúpula da secretaria. Foram mantidos no cargo alguns dos principais nomes abaixo de Derrite, como o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian, e o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Cássio Araújo de Freitas.

Como relatou o site IstoÉ, Derrite e seu chefe, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), têm uma relação atribulada com a Polícia Civil, que envolve cobranças por valorização dos profissionais, acusações de tratamento desigual em comparação com a Polícia Militar e desentendimentos sobre alterações estruturais.

Membros da secretaria consultados pela reportagem minimizaram as trocas recentes e afirmaram que são mudanças de praxe, feitas normalmente a cada dois anos pela pasta. Segundo eles, não há motivo específico para as decisões.

Veja as principais nomeações:

– Flávio Ruiz Gastaldi, até então delegado seccional de Praia Grande, assume o Deinter (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo do Interior) 6, em Santos;

– Luiz Carlos do Carmo, antes à frente do Deinter-6, agora vai para o Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro);

– Julio Gustavo Vieira Guebert, que estava no Demacro, assume o Departamento de Administração e Planejamento (DAP);

– Marcelo Jacobucci, anteriormente na Divisão de Investigações Gerais (DIG), agora vai para o Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol).

Problemas pregressos

No fim de 2024, o delegado Fabio Pinheiro Lopes, conhecido como Fabio Caipira, foi afastado do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) após ser citado na delação do empresário Antônio Vinicius Gritzbach, envolvido em esquemas de lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Em depoimento em setembro, Gritzbach, assassinado no começo de novembro, disse que repassou dinheiro ao seu advogado para subornar o delegado e outras autoridades. Na época, Pinheiro Lopes chamou o afastamento de “injustiça” e negou qualquer crime. No lugar dele, assumiu o delegado Ronaldo Sayeg, antes à frente do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos).

Recentemente, a Polícia Civil também anunciou o delegado de classe especial João Batista Palma Beolchi como novo corregedor-geral da instituição. Ele assumiu o cargo no lugar de Rosemeire Monteiro de Francisco Ibañez, que pediu afastamento do cargo após seu sobrinho — Eduardo Monteiro, investigador da Polícia Civil — passar a ser investigado por possível elo com o PCC.

O investigador foi preso em dezembro do ano passado ao lado de um delegado e outros dois policiais civis em operação da Polícia Federal e do Ministério Público do Estado. Eles são suspeitos de cobrar propinas e de lavagem de dinheiro. A partir da delação de Gritzbach, a PF buscou provas de outras investigações e analisou movimentações financeiras e outros depoimentos. Na época, a defesa de Monteiro chamou a prisão de “arbitrariedade”.

Em paralelo, em janeiro, a Corregedoria da PM prendeu um cabo da PM suspeito de ser um dos assassinos de Gritzbach, além de mais 14 policiais que faziam parte da escolta do delator, apontada como ilegal pela Secretaria da Segurança Pública.

Posteriormente, foram presos ainda um tenente da Polícia Militar suspeito de dirigir o carro usado na execução e o terceiro acusado de participar da execução do delator do PCC. Trata-se de um cabo que integra o efetivo do 20º Batalhão da PM, como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo.

No caso de repercussão mais recente, este último com investigação sem aparente elo com a morte de Gritzbach, a delegada titular do 77º Distrito Policial (Santa Cecília), Maria Cecília Castro Dias, foi afastada de suas funções na sexta, sob suspeita de envolvimento em uma espécie de quadrilha formada policiais civis para desviar cargas de drogas e vendê-las a traficantes. Ela não se manifestou.

As prisões e afastamentos se juntam a uma sequência de abusos policiais no fim de 2024, o que deflagrou uma crise na área da segurança pública no estado. Entre as ocorrências, estão a morte de uma criança de 4 anos na Baixada Santista, de um estudante de Medicina baleado em um hotel da capital, e o flagra de um policial atirando um homem do alto de uma ponte na zona da capital.

Troca na Baixada Santista

Além das trocas em outros departamentos, chama a atenção a mudança na gestão do Deinter-6, com atuação na Baixada Santista. Entre 2023 e 2024, a polícia repetiu incursões na região litorânea sob a justificativa de reprimir a atuação do PCC. A área é considerada estratégica para o crime organizado, uma vez que o Porto de Santos é usado para enviar drogas para o exterior.

A primeira dessas operações, a Escudo, foi deflagrada em julho de 2023 após o assassinato de um soldado da Rota no Guarujá. Meses depois, uma ação semelhante, a Verão, foi replicada na Baixada. Ao menos 84 pessoas morreram nessas operações. Segundo a PM, vários dos mortos têm elo com o tráfico ou passagens pela polícia, além de supostamente terem entrado em confronto com as tropas.

Ministério Público do Estado, Ouvidoria das Polícias e entidades denunciaram supostos abusos em parte das ações da polícia, o que é negado pelo governo, que diz investigar os casos.

Em novembro do ano passado, o Tribunal de Justiça do Estado tornou réus dois agentes da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) pela morte de um homem de 36 anos em fevereiro de 2024 em Santos. Conforme a denúncia, eles teriam forjado um confronto e dificultado a captação de imagens pelas câmeras corporais que usavam após matar a vítima, que trabalhava como roupeiro.