04/12/2024 - 17:10
Os deputados de esquerda e de extrema direita derrubaram, nesta quarta-feira (4), o governo do primeiro-ministro francês, Michel Barnier, com pedidos de renúncia para o presidente Emmanuel Macron, em meio a uma crise política na segunda maior economia da União Europeia (UE).
Por 331 votos a favor, acima da maioria absoluta, de 288, a Assembleia Nacional (Câmara baixa) pôs fim ao governo de Barnier, que durou menos de cem dias, rejeitando, ainda, seu orçamento para 2025.
Embora a censura não afete Macron, cujo mandato termina em 2027, ela o enfraquece ainda mais, especialmente após ele ter decidido nomear Barnier, de 73 anos, como primeiro-ministro em setembro, em nome da “estabilidade”.
“Hoje, votamos pela censura ao seu governo, mas, sobretudo, marcamos o fim de um mandato: o do presidente”, afirmou o deputado esquerdista Éric Coquerel, ao defender a moção de censura da coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP).
Sem pedir diretamente sua renúncia, a líder do partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), Marine Le Pen, desafiou Macron, com quem disputou a Presidência em 2017 e 2022, a refletir se pode continuar no cargo.
“Cabe à sua consciência decidir se pode sacrificar a ação pública e o destino da França por seu orgulho. Cabe à sua razão decidir se pode ignorar a evidência de um repúdio popular maciço”, destacou.
Na terça-feira, o presidente, em visita à Arábia Saudita, chamou de “ficção política” uma possível renúncia antes de 2027, quando termina seu segundo mandato. O presidente de centro-direita, de 46 anos, não pode se reeleger.
Le Pen aparece com força nas pesquisas para a Presidência, mas a justiça pode frustrar seu sonho se, em 31 de março, decidir inabilitá-la por cinco anos, como solicitou o Ministério Público em um caso de malversação de fundos da União Europeia.
O sucesso da moção de censura tornou o governo de Barnier no mais breve da Quinta República francesa, iniciada em 1958, e no segundo a cair, após o de Georges Pompidou, em 1962, quando Charles de Gaulle era presidente.
Embora inicialmente tenha se recusado a apoiar uma moção de censura, Le Pen acabou por fim dando um empurrão em Barnier. O motivo foi que ele se negou a renunciar ao adiamento de janeiro para julho da revalorização das pensões em seu projeto de orçamento de 2025, após várias concessões.
Com um orçamento focado em reduzir os gastos públicos e aumentar temporariamente os impostos para grandes empresas, o governo procurava reduzir o déficit (projetado em 6,1% do PIB em 2024) e a dívida pública (112% do PIB no final de junho).
“Esta moção de censura piora tudo e torna tudo mais difícil”, disse Barnier ao final do debate, após ter apelado à “responsabilidade” em um momento econômico tenso, com o prêmio de risco da dívida francesa equiparado ao da Grécia.
O clima social também é tenso. Na quinta-feira está prevista uma greve de funcionários públicos, enquanto prossegue a mobilização dos agricultores, especialmente contra um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
A instabilidade na França e a crise de governo na Alemanha, que precisou antecipar as eleições legislativas para 23 de fevereiro, podem afetar a UE, a poucas semanas do retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.
Sem poder convocar novas eleições legislativas até julho próximo, o presidente Macron parece disposto a nomear um novo primeiro-ministro “rapidamente”, antes mesmo da cerimônia de abertura da catedral de Notre Dame, prevista para o fim de semana, segundo seus interlocutores.
Mas, “ainda não há nada decidido”, afirma o entorno de Macron, que demorou dois meses para nomear Barnier e graças a que o partido conservador Os Republicanos (LR) deixou a oposição par governar juntamente com sua aliança centrista, no poder desde 2017.
Em uma Assembleia Nacional sem maioria clara e dividida desde julho em três blocos irreconciliáveis: esquerda, centro direita e extrema direita, o jogo parece mais aberto.
Socialistas e ecologistas, membros da NFP, abriram a porta a acordos com a aliança de Macron, mas o ex-primeiro-ministro de centro direita Gabriel Attal convocou os primeiros a “se libertarem” antes de seu partido aliado da esquerda radical, A França Insubmissa (LFI).
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