Deputados espanhóis aprovaram nesta quinta-feira (14) uma lei de anistia para separatistas catalães, aproximando sua figura mais conhecida, o ex-presidente regional Carles Puigdemont, do retorno ao país.

Esta anistia, aprovada com 178 votos a favor e 172 contra, foi uma exigência imposta ao presidente do Governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, pelos deputados separatistas para manter seu apoio no restante da legislatura.

Este é “um passo corajoso e necessário para o reencontro”, afirmou o presidente do Governo, Pedro Sánchez, em uma mensagem na rede social X.

“Começamos um novo tempo de convivência e prosperidade na Catalunha”, acrescentou, sobre a lei chamada “anistia para a normalização institucional, política e social na Catalunha”.

Já Puigdemont afirmou no X que o objetivo da anistia “não é virar a página ou colocar um ponto final em nada, mas superar uma fase equivocada de repressão judicial” ao movimento separatista catalão.

A deputada separatista catalã Pilar Vallugera sustentou que o “próximo passo no conflito político” é “o exercício do direito à autodeterminação”.

O texto seguirá para o Senado, controlado pelo PP, que já anunciou que fará o possível para atrasar seu trâmite ao máximo. Por último, terá que retornar ao Congresso para sua aprovação definitiva.

A futura lei, que deve beneficiar cerca de 400 pessoas, pretende levar os tribunais a retirarem as acusações e condenações de ativistas e líderes separatistas por seu envolvimento na tentativa de secessão da Catalunha em 2017, uma das piores crises políticas da Espanha contemporânea.

– Para manter Sánchez –

Há quase três anos, Sánchez indultou nove separatistas condenados por sua participação na tentativa de secessão, embora durante a campanha para as legislativas de julho de 2023 assegurou que se opunha a uma anistia.

Após as eleições, mudou de opinião, já que o apoio de quatorze deputados das formações separatistas catalãs – Juntos pela Catalunha (Juntos) e Esquerda Republicana da Catalunha (ERC)- foi essencial para sua investidura.

“Esta lei será aprovada porque é a única forma de o senhor Sánchez ser presidente do Governo”, disse o líder da oposição e do PP, o conservador Alberto Núñez Feijóo.

A votação da primeira versão do texto, em 30 de janeiro, representou um duro revés para Sánchez, quando os sete deputados do Juntos votaram contra o projeto que consideraram insuficiente.

O partido separatista de linha dura é dirigido pelo ex-presidente regional Carles Puigdemont, que está na Bélgica desde 2017 para evitar a Justiça espanhola.

Para o ex-presidente catalão, a versão não o protegeria contra eventuais processos por terrorismo ou traição. Um mês depois, a mais alta instância judicial espanhola anunciou uma investigação contra ele por suposto crime de “terrorismo”.

A solução encontrada foi eliminar da nova versão qualquer referência ao Código Penal espanhol e adotar como único critério as normas europeias, que têm uma diferente concepção de terrorismo.

– À espera de Puigdemont –

A votação dos deputados ocorre em um contexto político tenso e agitado após a decisão anunciada na quarta-feira pelo presidente do governo catalão, Pere Aragonès, do ERC, de convocar eleições regionais antecipadas para 12 de maio.

O movimento teve consequências imediatas e levou Sánchez a renunciar à apresentação do projeto de lei orçamentária para 2024 e a prorrogar os orçamentos do ano passado.

Diante desse novo calendário, Puigdemont também começou a fazer as contas.

Visivelmente otimista, falou à imprensa na quarta-feira em Estrasburgo, que a lei poderá entrar em vigor “provavelmente no final de maio”, e seu retorno seria nas semanas seguintes.

Sobre as eleições de 12 de maio, Puigdemont destacou que é “evidente” que poderá participar do debate de investidura do próximo presidente catalão, mas não disse se mudaria seus planos iniciais de concorrer a um novo mandato como eurodeputado para ser o candidato do seu partido nas eleições regionais.

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