Em 2019, um estudo publicado pela plataforma Vittude constatou que 86% dos brasileiros sofriam com algum transtorno mental. Em um país onde a maioria das pessoas têm a saúde mental impactada, é possível que sintomas se misturem e torne-se difícil conseguir um diagnóstico preciso. Isso pode acontecer, especialmente, na tentativa de diagnosticar um conjunto de sintomas como depressão ou transtorno bipolar.

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Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 6 milhões de pessoas sofrem de bipolaridade no Brasil. No entanto, segundo o psiquiatra especializado em bipolaridade e depressão Renato Silva, é possível que a maioria dos pacientes não conte com um diagnóstico conclusivo. Isso porque o transtorno é comumente confundido com depressão e pode ter características semelhantes a outros transtornos.

“O caminho entre a procura de um médico e o diagnóstico correto demora, em média, de nove a 10 anos para identificar um transtorno bipolar do tipo 1 e algo entre 13 e 18 anos para diagnosticar transtorno do tipo 2”, explica Renato.

Outro motivo de confusão entre os diagnósticos pode ser a prevalência de ambos os transtornos. Segundo o psiquiatra, estudos já mostraram que 48% das pessoas depressivas possuem transtorno bipolar. “Então, é preciso que o médico estude todo o histórico do quadro de depressão do paciente para ver se existem características de bipolaridade”, acrescenta. 

Depressão ou transtorno bipolar: diagnóstico

Renato aponta, ainda, que a análise de manuais como o CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) e o DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais), regularmente utilizados para o diagnóstico de transtornos mentais, pode não ser suficiente.

“Existem outras características que o médico precisa analisar efetivamente. A realidade e as nuances de vida de cada pessoa vão ajudar a ser mais assertivo na identificação da bipolaridade”, declara.

Apesar de ser um desafio até mesmo para profissionais, o diagnóstico da bipolaridade pode ser feito a partir da análise de alguns sintomas principais.

16 sintomas que podem indicar bipolaridade

depressão ou transtorno bipolar
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Renato explica que o transtorno bipolar é marcado pela alternância entre episódios de mania — períodos com aumento da atividade psíquica e física, com sintomas como impulsividade, irritação e agitação — e períodos de depressão.

“Na maioria das vezes, quem sofre de bipolaridade passa a maior parte do tempo também deprimido e, em alguns períodos, em fase de ativação”, contextualiza. De acordo com ele, os principais sintomas que podem indicar a presença da bipolaridade são:

  1. Quadros de depressão antes dos 20 anos de idade;
  2. Depressão psicótica antes dos 25 anos de idade (constitui-se por sintomas como alucinações, e acreditar sofrer uma perseguição);
  3. Perda de eficácia do tratamento de depressão ou necessidade de alterar medicação antidepressiva mais de 3 vezes;
  4. Depressão recorrente, com mais de cinco episódios;
  5. Depressão pós-parto, que pode ocorrer em 50% das mulheres bipolares;
  6. Episódios depressivos muito curtos;
  7. Retardo psicomotor (lentidão para falar, se mover, etc.) ocasionado pela depressão;
  8. Hipersonia: dormir por mais de 10 horas;
  9. Sazonalidade (depressão sempre na mesma época do ano);
  10. Histórico familiar de bipolaridade: com diagnóstico do transtorno ou marcadores como suicídio, etilismo — principalmente em mulheres — e depressão recorrente em parentes de primeiro grau;
  11. Alta densidade genética: três ou quatro gerações com transtorno de humor;
  12. Oscilação de humor;
  13. Temperamento hipertímico: uma personalidade caracterizada por boa disposição;
  14. Hipomania com antidepressivo: energia em excesso, impaciência, agitação e impulsividade mesmo se tratando com antidepressivo;
  15. Estado depressivo misto: humor está para baixo, mas atividade motora está agitada;
  16. Excitação sexual durante episódio depressivo.

No entanto, é preciso notar que a existência de um ou dois desses comportamentos não indica bipolaridade. “Agora, se ela tiver mais de cinco, as chances de se chegar a esse diagnóstico são maiores”, elucida Renato. A recomendação do psiquiatra é que o próprio paciente analise tais características e, se identificar comportamentos similares aos seus, procure tratamento médico.