Depressão aumenta o risco de doenças crônicas, revela estudo

Adultos de meia-idade com histórico de depressão têm mais doenças crônicas, mostra um estudo da Universidade de Edimburgo, na Escócia, publicado no periódico Plos One. A pesquisa avaliou a associação entre depressão e as chamadas multicomorbidades, ou seja, a coexistência de duas ou mais doenças.

Sabe-se que a depressão afeta vários sistemas, e os autores buscaram quantificar sua relação com a presença ou o desenvolvimento de 69 problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, pulmonares, diabetes, artrite, entre outros.

Para isso, avaliaram dados de mais de 172 mil participantes do Biobanco britânico, um grande banco de dados de saúde, acompanhados por sete anos em média. Cerca de 18% tinham depressão diagnosticada ao iniciar a pesquisa.

Já no começo, aqueles diagnosticados com depressão tinham em média três doenças crônicas, contra duas no caso dos demais participantes. Ao final do acompanhamento, quem tinha depressão apresentou um risco duas vezes maior de ter outras doenças. O resultado se manteve mesmo após ajustar outros fatores de risco, como sedentarismo ou tabagismo.

“O estudo evidencia a questão bidirecional entre depressão e quadros clínicos: sabemos que esses pacientes têm maior risco de apresentar doenças crônicas ao longo da vida e que doentes crônicos têm maior risco de ter depressão ao longo da vida”, analisa o psiquiatra Gabriel Garcia Okuda, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Uma das razões por trás dessa associação é o impacto da depressão no cuidado com a própria saúde. “É muito difícil que um paciente deprimido consiga cuidar bem de comorbidades clínicas, como hipertensão arterial, dislipidemia ou do diabetes”, diz Okuda.

Esses indivíduos também têm mais dificuldade em sustentar os tratamentos, desde procurar atendimento inicial até dar continuidade. “Pode acontecer de não tomar os remédios, ou tomar durante um tempo e parar, o que pode piorar o quadro clínico geral”, relata o especialista.

Além disso, os próprios sintomas da doença — tristeza, falta de vontade ou ânimo, alterações no apetite e sono, por exemplo — têm impacto direto na saúde. “O sono tem papel importante na regulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que pode alterar o ciclo do cortisol, o hormônio do estresse. Ao não dormir bem, a tendência é apresentar cortisol elevado, o que pode aumentar o risco de obesidade, doenças cardíacas, entre outros.”

Já as alterações de apetite podem tanto levar à desnutrição ou, ao contrário, a uma piora da qualidade da alimentação, trazendo ganho de peso. Isso por sua vez pode favorecer aumento de pressão arterial, piora do diabetes e das taxas de colesterol.

“São situações frequentes que os quadros depressivos podem causar, gerando um efeito cascata, com piora da parte clínica. Essa piora dificulta ainda mais a melhora dos sintomas de humor”, explica o psiquiatra. Além disso, essas pessoas têm maior probabilidade de uso de substâncias como álcool, tabaco e outras.

Por isso o estudo enfatiza a necessidade de uma triagem mais ativa desses casos, que podem acabar evoluindo para quadros mais graves. Vale lembrar que o tratamento é baseado em um tripé que inclui acompanhamento psiquiátrico e uso de medicação, quando necessário, psicoterapia e medidas de estilo de vida, incluindo cuidados com a qualidade do sono, da alimentação, controle do estresse e atividade física.

Daí a necessidade de um tratamento integrado e colaborativo entre médicos e outros profissionais. “Também é importante a educação do paciente, que às vezes acha que basta tomar a medicação, lembrando desse efeito bidirecional entre depressão e outras doenças e da importância de tratar a parte física, emocional e mental para melhora do quadro.”

Fonte: Agência Einstein

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