ROMA, 24 JUL (ANSA) – O depoimento no Senado do primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, sobre as suspeitas de um apoio financeiro russo ao partido ultranacionalista Liga aprofundou a crise política que ameaça a sobrevivência do governo.   

Conte se disponibilizou a ir ao Parlamento nesta quarta-feira (24) para explicar o “caso Rússia”, mas sua presença no Senado acabou expondo as divergências entre a Liga e o outro partido da base aliada, o Movimento 5 Estrelas (M5S).   

Durante o depoimento do premier, os senadores do M5S abandonaram o plenário em protesto pela ausência do ministro do Interior e vice-premier Matteo Salvini, secretário federal da Liga.   

“Reiteramos nosso respeito pelo primeiro-ministro Conte, mas não era ele quem deveria se apresentar no Senado para responder sobre o caso Rússia-Liga”, diz uma nota oficial do movimento antissistema.   

A divisão entre os dois partidos da base aliada acontece um dia depois de Salvini ter garantido com Conte a continuidade da obra de uma linha ferroviária de alta velocidade entre Turim e Lyon, projeto criticado pelo M5S.   

Em face de mais essa ruptura, o líder da oposição, Nicola Zingaretti, do Partido Democrático (PD), afirmou que o governo não tem mais maioria no Parlamento e que apresentará uma moção de desconfiança contra Salvini. “É hora de acabar com essa agonia. Vamos mandá-los para casa e fazer eleições imediatamente”, disse.   

O ministro do Interior, que continua se recusando a comparecer ao Parlamento, afirmou que a moção para derrubá-lo é uma “medalha” para ele.   

O caso – O escândalo estourou quando o site BuzzFeed revelou que Gianluca Savoini, ex-porta-voz de Salvini, negociou abertamente com dois cidadãos russos sobre um repasse milionário para a Liga.   

A conversa ocorreu no Hotel Metropol, em Moscou, em outubro de 2018, durante uma visita oficial do ministro do Interior à Rússia. No diálogo, Savoini e dois russos discutem a criação de um fundo de US$ 65 milhões a ser usado pela Liga nas eleições europeias de maio passado, com recursos obtidos da venda de petróleo.   

Não se sabe, no entanto, se a negociação chegou a ser concluída.   

Salvini diz que nunca recebeu dinheiro da Rússia e que não convidou Savoini para sua viagem a Moscou. Conte, por sua vez, foi evasivo em sua sabatina nesta quarta-feira.   

“A visita de Salvini a Moscou em outubro foi organizada diretamente pelo Ministério do Interior. Consistiu na participação na assembleia geral da federação das indústrias da Rússia, da qual me parece que Savoini também participou. Os eventos sucessivos tiveram caráter privado”, desconversou.   

O primeiro-ministro também foi questionado sobre a presença do ex-porta-voz de Salvini em um jantar de gala oferecido ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, no início de julho.   

Segundo Conte, Savoini foi convidado ao evento por um conselheiro do ministro do Interior, Claudio D’Amico.   

“Meus funcionários não questionaram o convite porque Savoini é presidente da Associação Cultural Lombardia-Rússia”, justificou.   

(ANSA)