O bonito da democracia jabuticaba que a gente desenvolveu é que aqui tudo depende.
Depende assim mesmo, intransitivo e sem complemento.
Depende, ponto final.
Por exemplo, quando Temer era um “vice-decorativo” mandou uma cartinha resmungando e na sequência deixou
a companheira presidente ser fritada num impeachment que ele, Temer, nem palpitou.
Agora que de vice-decorativo passou a presidente-acusado,
ele escreve outra cartinha para dizer que é golpe.
Golpe e impeachment são dois lados do mesmo depender.
Depende do que?
De nada.
Só depende.
Veja só outro caso ilustre de depende-se: senador Aécio Neves.
Quando algum político de outra agremiação recebe dinheiro
do Joesley, é dinheiro sujo, caixa dois, corrupção.
Agora, se quem recebe o dinheiro é o primo do senador Aécio, aí é empréstimo.
Depende, entende?
Alias, o senador é fértil em dependências.
Lembra do senador Delcidio?
Quando era para cassar Delcidio, Aécio Neves disse que o voto tinha de ser aberto, que é para tudo ficar às claras.
Mas agora, quando chega a hora de votar na permanência
do próprio Aécio, o senador quer que o voto seja secreto.
Afinal, o voto aberto ou secreto, como todo mundo sabe, é coisa que depende.
Depende de quem, onde, como.
E assim vamos vivendo num país dependente.
Você elege o sujeito para um cargo, mas se ele vai ficar até o final do mandato, depende.
Dinheiro para a campanha vinha de caixa dois.
Não pode mais caixa dois, então agora vem do nosso bolso.
E não depende da gente.
Depende deles mesmos, dos próprios políticos, quem enfiam
a mão compulsória em nossos bolsos.
Alias, se caixa dois é propina ou doação ilegal, depende
do partido.
Um procurador-geral da República chama o presidente, veja
que loucura, de “chefe de um quadrilhão”.
Será que é ou não é?
Depende.
Se o presidente conseguir fechar acordos e negociar cargos com o Congresso, assim à luz do dia, então não é chefe de quadrilhão.
Se não conseguir, aí passa a ser.
No Tribunal Superior Eleitoral as coisas também dependem.
Votando pelo uso de caixa dois na campanha Dilma/Temer, Gilmar Mendes olhou as provas e pensou o que?
Já sabe né?
– Aí depende…
– Depende do que ministro?
– Depende.
As provas vieram antes, vieram depois e plim! não vale mais.
E, sem provas, todo mundo é inocente.
No Congresso tudo depende.
– Vai votar contra ou a favor?
– Depende
– Do crime?
– Não! Do senador acusado.
No STF as coisas dependem muito!
– Mas pode ser condenado?
– Depende.
– Da decisão dos ministros?
– Não. Do juiz com quem cair a causa.
Na Saúde, na Educação, no Saneamento, na Infraestrutura.
Na Economia pode estar tudo bem ou tudo ruim.
Depende do ministro que colocarem lá.
Uma cadeia de interesses intricados onde tudo pode ser o que
o vai da valsa decidir naquele momento específico.
Toda a ordem do País, todas as instituições sustentadas à custa da interdependência dos poderes e seus interesses.
E como tudo depende, a cada notícia nova, nos sentimos mais inseguros.
Nesse Brasil de hoje só existe uma coisa que não depende
de nada e nem de ninguém.
Quem paga a conta.
Independente do valor.