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Não vão nada bem os sinais vitais da lisura do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, no tratamento que ele estaria dando ao dinheiro público. Médico querer lucrar muito e fácil, valendo-se da pandemia, é no mínimo antiético. Se esse médico tiver gabinete na Esplanada dos Ministérios, é crime. Pode ser o caso de Queiroga, e o que está em jogo é o Hospital Santa Paula, que pertence a sua família e localiza-se na cidade de João Pessoa, capital da Paraíba. Fundado por familiares da mulher do ministro, a médica Simone Teotônio de Araújo Queiroga Lopes, o hospital estava desativado desde 2012 devido a sua péssima saúde financeira. Veio, infelizmente, a pandemia, e é nesse momento que uma estranha história envolvendo tal unidade começa a ser desenvolvida.

Para ampliar a capacidade de atendimento de pacientes de Covid, a administração estadual paraibana, com o governador João Azevêdo à frente, decidiu reformar o imóvel. Detalhe: tudo com dinheiro do erário, Queiroga e seus familiares não tiveram de desembolsar um único centavo. Em quanto ficou essa reforma promovida com dinheiro do contribuinte? Em R$ 1,27 milhão. Tudo novinho e tudo reformado, e eis que o hospital é colocado à venda. Por qual valor? Cuidemo-nos para não infartar com a ganância do cardiologista Queiroga. O valor foi fixado em R$ 47 milhões. Façamos a conta e chegaremos a diferença de mais de R$ 45 milhões. Se o negócio de fato se concretizou, os Queiroga tiveram um fabuloso lucro. E tudo com dinheiro público.

MISTÉRIO O anúncio da venda do Hospital Santa Paula foi retirado porque o governo da Paraíba já o teria adquirido (Crédito:Divulgação)

A reforma foi tocada adiante pela Virtual Engenharia, contratada sem licitação pelo governo. Ela já pertenceu a Roberto Crispim Paschoal de Oliveira, ex-prefeito da cidade paraibana de Juazeirinho e antigo alvo de ação de improbidade administrativa. Essa mesma Virtual Engenharia já prestou serviços para a Prefeitura de João Pessoa, para o Instituto Federal de Educação e o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca. De repente, não mais que de repente, surge a notícia de que o hospital teria sido comprado pelo próprio governo da Paraíba: ou seja, o governo reformou por R$ 1,27 milhão e o teria adquirido por R$ 47 milhões. Se isso ocorreu, foi suja cirurgia. O anúncio de venda do hospital estava disponível no site da Invicta Negócios Imobiliários mas, de uma hora para outra, evaporou. Um dos proprietários da imobiliária disse à ISTOÉ que o anúncio fora excluído das plataformas da empresa porque lhe veio a informação de que o hospital fora vendido ao governo. Quando esteve na CPI da Covid, o senador Renan Calheiros inquiriu o ministro sobre esse negócio, querendo saber se ele, eventualmente, se beneficiara de alguma negociação. A resposta de Queiroga não esclareceu absolutamente nada: “Então, meu sogro tem um hospital, chamado Santa Paula (…). Não tenho nenhum tipo de relação com a sua gestão. A informação que posso lhe dizer é essa”. O governo da Paraíba, por sua vez, confirma que colocou dinheiro do povo na reforma da unidade.