Fabiano Zettel

Coluna: Wellness & Negócios

Fabiano Zettel é fundador e CEO da Moriah Asset, primeiro veículo de investimento especializado no setor de saúde e bem-estar do Brasil.

Densidade nutricional: você já ouviu falar disso?

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Foto: Envato

Densidade nutricional é um conceito que vem ganhando importância rapidamente no mercado de saúde e bem estar, ajudando a impulsionar a inovação no segmento de alimentos e bebidas. Ele representa a relação entre peso, quantidade de calorias e concentração de nutrientes em um produto.

Além dos benefícios já conhecidos de uma alimentação mais saudável, como redução de peso e do risco de doenças crônicas, o movimento ganha força extra na medida em que surgem novas pesquisas relacionadas à saúde intestinal, destacando a conexão entre o sistema digestivo e o cérebro, e os benefícios de dietas individualizadas, desenhadas sob medida para cada pessoa.

Fica mais fácil entender o conceito com um exemplo. Em 100g de batata-doce há basicamente a mesma quantidade de calorias que em 100g de pão branco (cerca de 90 kcal). Porém, do ponto de vista nutricional, a diferença entre os produtos é grande.

Enquanto a batata-doce fornece fibras, vitaminas e minerais, o pão branco tem menos nutrientes e pode causar picos de glicose, devido ao alto índice glicêmico — lógica semelhante vale para comparações entre diversos outros alimentos, como abacate e salgadinhos industrializados, amêndoas e chocolate ao leite.

É uma conta que os consumidores estão cada vez mais dispostos a fazer. E à medida que a conscientização aumenta, cresce o escrutínio do governo sobre as empresas e a demanda por produtos com maior densidade nutritiva, principalmente em segmentos como chás, sucos e proteínas vegetais, como mostra um estudo do Global Wellness Institute (GWI).

A preocupação é visível no varejo supermercadista e em restaurantes especializados em comidas saudáveis. Basta reparar na frequência com que hoje se vê consumidores lendo tabelas nutricionais de produtos durante as compras. Ou como clientes pedem para visitar a cozinha para saber mais sobre os ingredientes usados quando saem para comer fora.

A curiosidade sobre os produtos usados se tornou comum nos restaurantes da rede Néctar, da Frutaria São Paulo e do Empório Frutaria, dos quais a Moriah é sócia. Em nenhum deles usamos óleos vegetais ultraprocessados. Só azeite de oliva.

No âmbito estatal, no Brasil, essa preocupação com a qualidade e a saúde pública é o que está por trás das novas regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a rotulagem de alimentos, em vigor há pouco mais de dois anos. A partir delas, alimentos com alto teor de sódio, gordura saturada e açúcar passaram a levar um selo de alerta, com uma lupa.

O mercado, aqui e no mundo, tem respondido com o lançamento de alimentos e bebidas funcionais com densidade nutricional verificada e níveis mais elevados de antioxidantes, polifenóis e minerais essenciais, como aponta o levantamento da GWI.

Também passou a apresentar de forma mais transparente sua cadeia produtiva e a demonstrar comprometimento com práticas agrícolas orgânicas regenerativas, que têm reflexos diretos sobre a densidade nutricional das matérias primas e o meio ambiente.

A americana Stonyfield, por exemplo, conhecida por seu iogurte grego orgânico, de alto teor proteico (16g por porção), apresenta em seus produtos o selo do Non-GMO Project, que indica que não usa ingredientes geneticamente modificados. O leite empregado na produção é integral, de vacas criadas em pastagens.

A RXBAR, que hoje pertence a Insurgent Brands LLC, uma subsidiária da Kellanova, ganhou visibilidade rapidamente com barras de proteína feitas apenas com ingredientes naturais, como claras de ovos, nozes e tâmaras, e por destacar a composição nas embalagens. Fundada em 2013, por dois amigos que vendiam os produtos diretamente em academias de crossfit, já em 2016 passou para as mãos da Kellogg’s, por US$ 600 milhões.

Já a Huel, de origem inglesa, se tornou uma empresa com receita anual de 214 milhões de libras, por ano, vendendo o conceito de nutrição completa e conveniente. Cada um de seus produtos, de preparo instantâneo, feitos à base de vegetais como aveia, ervilha, arroz, linhaça, coco e girassol, contém todas as vitaminas, minerais, proteína, gorduras, carboidratos, fibras e fitonutrientes essenciais para qualquer pessoa, de forma equilibrada.

São exemplos que refletem um movimento maior de dinamismo do mercado, que cada vez mais acorda para as tendências de saúde e bem-estar, aqui e lá fora. Atualmente, a preocupação com a densidade nutricional é um fator chave de diferenciação. Mas, em poucos anos, deve se tornar comum. A hora de investir para sair na frente é agora.

* Fabiano Zettel é fundador da Moriah Asset, primeiro veículo de investimentos no Brasil com foco exclusivo em empresas de saúde e bem-estar.