O Brasil vive uma explosão da dengue. Apenas no primeiro mês de 2024, o Ministério da Saúde já registrou algo em torno de 220 mil casos — 170% somente nas três primeiras semanas, mais que o triplo no mesmo período de 2023. Até esta semana, 15 mortes foram confirmadas. Somente no Distrito Federal são 31.236 infectados, o que supera a população de 30.446 habitantes do Lago Sul. A proliferação impulsionou a compra da vacina japonesa, a Qdenga, desenvolvida pelo laboratório Takeda Pharma.

A imunização pelo Sistema Único de Saúde começará em fevereiro e deve atingir 10% da população. Inicialmente, a prioridade são crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos em 521 municípios de regiões endêmicas.

A ação se soma a outras da pasta, que repassou R$ 256 milhões para controle da situação, aumentou o estoque de inseticidas e impulsionou atividades de efetivos de combate — incluindo tropas do Exército. Em São Paulo, por exemplo, a Prefeitura passou de dois para 12 mil no número de agentes em campo.

Apesar dos feitos, o País tem a consciência de que pode estar próximo de uma epidemia. “A vacina é nosso instrumento de esperança em relação a um problema de saúde pública que tem quase 40 anos. Temos de celebrar. Mas a vacina no quantitativo que o laboratório pode nos entregar, sendo ela de duas doses, não pode ser apontada ainda como solução”, declarou Nísia Trindade, ministra da Saúde.

“É possível que tenhamos um recorde histórico de dengue. Nos anos com poucas ocorrências, há média de 300 mil casos. Em anos com muitos episódios, chega a 1,6 milhões. Para 2024, a estimativa está entre três e cinco milhões”, calcula o infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury. “A doença aumenta no Brasil e no resto do mundo. Estamos vendo o cenário em países que não tinham dengue, como a França, Itália e os Estados Unidos. No Brasil, ocorre alta em lugares que também não eram atacados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.”

Dengue e malária ganham vacinas
(Julia Prado)

“A vacina é uma esperança para um problema que tem quase 40 anos, mas não pode ser apontada como solução.”
Nísia Trindade, ministra da Saúde (ao centro)

Isso explica a fala de Nísia, que é endossada por demais especialistas. “Embora a vacina seja eficaz e segura, levará tempo para que o percentual de brasileiros vacinados possa gerar impacto importante no número de casos e óbitos. No entanto, aqueles grupos inicialmente selecionados para imunização terão boa proteção”, avalia José Geraldo Leite Ribeiro, epidemiologista do Grupo Fleury.

Por aqui, outra fonte de confiança é a vacina do Instituto Butantan. Com eficácia geral de 79,6%, será avaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A expectativa é que seja aplicada em dose única já em 2025.

Conscientização

A realidade da doença infecciosa febril aguda já era previsível. Em 2023, a Organização Mundial de Saúde alertou a respeito da disseminação de enfermidades virais, como dengue, zika e febre chikungunya, com o fenômeno climático El Niño, que eleva temperaturas além de trazer temporais.

“A sazonalidade das doenças transmitidas por vetores é explicada pelo aumento das chuvas no período do verão associado ao clima quente e úmido, condições consideradas ideais para a reprodução e atividade de insetos”, sintetiza Simone Fernandes, infectologista da rede dr.consulta.

“Não podemos esquecer que 75% da transmissão ocorre dentro das casas. Então, há esse apelo para um trabalho de governo, mas também dos cidadãos, das cidadãs, de cada família para cuidar desse ambiente”, pede a ministra. Lembre-se: Aedes aegypti utiliza todo o tipo de recipiente capaz de acumular água para depositar seus ovos.

Dengue e malária ganham vacinas
(Cristina Aldehuela)

PIONEIROS
Camarões tem primeira campanha sistemática do mundo contra a malária

Uma etapa histórica contra a malária acontece na África. Causada por protozoários transmitidos pela picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles, a doença é grave problema de saúde pública. Desde o dia 22 de janeiro, o governo de Camarões vacina suas crianças com a Mosquirix como parte da campanha nacional.

O imunizante da farmacêutica britânica GlaxoSmithKline é destinado, inicialmente, aos bebês de seis meses — o que mobilizou famílias inteiras no país. Os responsáveis trataram de buscar informações sobre o esquema vacinal, uma vez que para completar o ciclo são necessárias quatro doses.

A pressa dos camaronenses se dá com base nos índices: em 2021, a malária matou 600 mil pessoas no planeta, sendo 95% dos óbitos no continente africano. Os resultados iniciais da Mosquirix mostraram redução de até 30% dos quadros graves e mortais.

Apesar de ser um índice baixo também é sinônimo de esperança. “Estamos falando de países em que a mortalidade infantil é muito alta por causa da malária. Então, é a prova de que estamos salvando a vida de muitas crianças”, avalia o infectologista Celso Granato. No Brasil, foram 139.112 casos autóctones em 2021, sendo que a região amazônica é considerada área endêmica.