Com número de casos quatro vezes maior do que o registrado em 2023, a dengue virou doença grave no Brasil. Os dados alarmam tanto a população quanto o Governo Federal. A comparação: no ano passado, o registro de ocorrências entre janeiro e fevereiro foi pouco maior de 128 mil. Agora, apenas nesse início de 2024, o volume ultrapassou 524 mil. O Ministério da Saúde explica que tais estatísticas incluem infecções confirmadas e as que ainda estão em análise. Mesmo assim assombra, pois nesse levantamento 84 mortes pelo Aedes aegypti foram comprovadas — dado oficial até quarta-feira, 14. A explosão acima do meio milhão causa temor no País, pois a vacina chegou mas não está disponível para todos.

O enfrentamento da doença passou a ser prioridade da pasta, que há duas semanas iniciou a distribuição do imunizante Qdenga, do laboratório japonês Takeda Pharma, para os estados prioritários.

O lote inicial, com 712 mil doses, foi enviado para municípios de:
• Goiás,
• Bahia,
• Acre,
• Paraíba,
• Rio Grande do Norte,
• Mato Grosso do Sul,
• Amazonas,
• São Paulo,
• Maranhão,
• e do Distrito Federal.

Inicialmente, a imunização começou pelas crianças de 10 e 11 anos, o que gerou preocupação. “Até março estaremos com esse primeiro grupo protegido. Na sequência, trabalhamos para garantir os de 10 a 14 anos. Começamos com essas idades porque foi onde se viu maior presença de hospitalizações”, explicou Nísia Trindade, ministra da Saúde, que acompanhou o início da imunização no DF.

No entanto, quase uma semana depois, alguns municípios sequer receberam seus lotes. É o que acontece em Guarulhos, em São Paulo, que até quarta-feira não havia recebido suas 34 mil doses.

Dengue assusta o país; saiba como se proteger

(Mateus Bonomi)

Os altos índices fizeram a Força Aérea Brasileira (FAB) ser acionada. Desde o início do mês, a região de Ceilândia, no DF, conta com um hospital de campanha (HCAMP). Com operação de 24 horas, a instalação fornece atendimento clínico e pediátrico, com centro de emergência, laboratório para coleta, exames diagnósticos e estrutura para acompanhar tratamentos em andamento e espaço para hidratação.

“Nosso objetivo é desafogar as Unidades de Pronto Atendimento da região, já que hoje o Distrito Federal concentra em torno de 20% dos casos de dengue no País”, informou o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno, comandante da Aeronáutica.

No primeiro dia de funcionamento, foram registrados 753 atendimentos, sendo que eram esperados 600. Apenas no período de Carnaval, esse número saltou para 7.665. A crise é progressiva.

Para especialistas, o governo necessita de esforços pontuais diante do que caminha para um surto.

“Embora a vacina seja eficaz, especialmente na prevenção dos casos graves, é preciso conseguir uma solução para a produção nacional. E facilitar a aprovação e posterior incorporação ao Sistema Único de Saúde da vacina do Instituto Butantan”, considera Marcelo Neubauer, infectologista na cidade paulista Campinas.

É o que busca a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, que realizou encontros com o instituto e a Fundação Oswaldo Cruz.

O imunizante Butantan-DV se mostrou seguro e com eficácia de 79,6% em ensaios clínicos. Esses dados serão encaminhados para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária no segundo semestre de 2024, o que dará início ao processo de solicitação do registro definitivo.

“Também houve uma conversa entre a Takeda e a Fiocruz para transferência de tecnologia e nós esperamos que isso possa acontecer”, informou Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente.

Soma-se a tudo isso o investimento de R$ 1,5 bilhão da pasta para o enfrentamento da enfermidade — antes o valor reservado era de R$ 256 milhões.

Dengue assusta o país; saiba como se proteger
(André Violatti/Ato Press/Folhapress)

“Cerca de 75% dos focos estão dentro de casa.”
Nísia Trindade, ministra da Saúde

A esperança é que essas medidas deem conta do cenário emergencial provocado. Mas uma coisa precisa ser dita: a população tem que fazer o que lhe cabe.

“O cidadão tem um papel decisivo. Precisamos redobrar os cuidados com as residências e em volta delas. Cerca de 75% dos focos estão dentro de casa”, reiterou Nísia, em pronunciamento oficial.

A cartilha apela:
• tampar as caixas d’água,
• descartar o lixo corretamente,
• manter vasilhas de água dos animais limpas,
• guardar garrafas e pneus em locais cobertos,
• retirar água acumulada dos vasos e plantas.

A súplica também é que as pessoas recebam os agentes de combate às endemias e ajudem na localização de focos do mosquito.Dengue assusta o país; saiba como se proteger