As estrelas francesas Catherine Deneuve e Juliette Binoche, em cartaz em um drama familiar do japonês Hirokazu Kore-Eda, vão estar na abertura, nesta quarta-feira (28), do 76º Festival de Veneza, promissor, mas controverso, principalmente por causa da seleção de “J’accuse”, de Roman Polanski.
“La vérité”, em competição pelo Leão de Ouro, marca o retorno atrás das câmeras de Kore-Eda, um ano depois de sua Palma de Ouro em Cannes por “Assunto de família”.
Em seu primeiro filme rodado na França, traz Catherine Deneuve no papel de uma grande atriz que tem relações complicadas com sua filha, interpretada por Juliette Binoche, entre verdades escondidas e ressentimento não reconhecidos.
A cerimônia de abertura lançará às 19h (14h de Brasília) a competição de um festival em que não faltará estrelas, de Robert de Niro a Johnny Depp, passando por Penélope Cruz e Antonio Banderas.
Com 21 filmes em competição e um júri presidido pela cineasta argentina Lucrecia Martel, esta 76ª edição terá como foco as produções de Hollywood, confirmando a história de amor entre Veneza e os Estados Unidos.
Nos últimos anos, a Mostra se afirmou como uma plataforma de lançamento na corrida do Oscar por filmes como “Gravidade”, de Alfonso Cuaron, ou “La la land – Cantando estações”, de Damien Chazelle, coroados com várias estatuetas.
Este ano, os esperados são “Ad Astra”, uma odisseia espacial de James Gray, e “Joker”, filme de super-herói de Todd Phillips.
No primeiro, Brad Pitt encarna um astronauta que se aventura aos confins do Sistema Solar em busca de seu pai desaparecido, enquanto no segundo Joaquin Phoenix interpreta o Coringa, o famoso inimigo de Batman.
Outro filme americano em disputa, o thriller “The Laundromat” de Steven Soderbergh, uma das duas produções Netflix em competição, trata a crise dos “Panama Papers”, com Meryl Streep, Gary Oldman e Antonio Banderas.
“A história de um casamento” de Noah Baumbach, outro filme da Netflix, conta a história de uma ruptura amorosa, com Adam Driver e Scarlett Johansson.
– “Indiferença deliberada?” –
Enquanto a plataforma americana ocupou, no ano passado, o centro das atenções em Veneza, com o Leão de Ouro concedido a “Roma” de Alfonso Cuaron, este ano é Roman Polanski, por seu filme “J’accuse”, que provoca polêmica.
Várias vozes se levantaram para criticar a presença deste thriller histórico sobre o Caso Dreyfus, com Jean Dujardin.
Uma escolha que revolta as feministas, enquanto o diretor franco-polonês de 86 anos, excluído da Academia do Oscar no ano passado, ainda é perseguido pela Justiça americana pelo estupro de uma adolescente em 1977.
Outra polêmica diz respeito à presença em uma seção paralela de “American Skin”, o novo filme do diretor americano de “O Nascimento de uma Nação”, Nate Parker, absolvido em 2011 pelo estupro de uma estudante. Este caso voltou à tona em 2016 após a revelação do suicídio da jovem.
“Todos sabemos que o mundo mudou depois do #MeToo”, disse à AFP Melissa Silverstein, fundadora do grupo Women and Hollywood. “A pergunta que faço é ‘há uma falta de consciência, ou uma indiferença deliberada?'”, questiona.
O Festival também foi atacado pelo baixo número de mulheres em competição: apenas duas, a saudita Haifaa al-Mansour (que apresentou “Wadjda” em Veneza, em 2012) com “The Perfect Candidate”, e a australiana Shannon Murphy, com “Babyteeth”.
Esta 76ª edição do Festival de Cinema de Veneza, a ser realizada de 28 de agosto a 7 de setembro, também receberá o canadense Atom Egoyan, por “Guest of Honor”; o colombiano Ciro Guerra, com “Waiting for the Barbarians”, com Johnny Depp; e o chinês Lou Ye, por “Saturday fiction”, com Gong Li.