“Desdemocratização”, convenhamos, é uma palavra horrorosa. Mas foi a escolhida pelo professor Hans-Joachim Lauth, diretor do instituto de pesquisas DeMax, sediado na Alemanha, para caracterizar a tendência política que considera predominante no mundo atual. Num levantamento de numerosos aspectos políticos e judiciais de 179 países, o professor Lauth concluiu que as democracias estão perdendo qualidade, tornando-se instáveis, ou sofrendo retrocessos. E, de fato, à luz do que se passa na maior democracia do mundo, a da Índia, é difícil contestar tal tese.

Contudo, estudos desse tipo precisam ser tomados com cuidado. Por sua própria envergadura, eles tendem a “encaixar” situações muito díspares numa mesma interpretação. Lembremos, primeiro, que essa não é a primeira “desdemocratização” de que temos notícia. Muito mais virulenta foi a ocorrida entre as duas grandes guerras mundiais, quando duas poderosas forças ascendentes, o nazifascismo e o comunismo, efetivamente almejavam liquidar os regimes democráticos. Atualmente, salvo pelo poder de mercado da China, que lhe permite chantagear as democracias no tocante à liberdade de expressão, nada há que se compare aos regimes totalitários do entre – guerras.

Existe, sem dúvida, um mal estar generalizado em relação às instituições representativas, mas as causas desse mal estar variam muito de um país a outro. Nos Estados Unidos, por exemplo, as desigualdades sociais, a xenofobia contra os imigrantes e o racismo chegaram a um ponto agudo, que beira o incompreensível, mas o que torna esse conjunto de problemas uma ameaça à democracia é a presidência nas mãos de um tipo ferrabrás, tosco e agressivo, o Sr. Donald Trump.

No Brasil, temos o agravamento das dificuldades econômicas desde o governo Dilma Rousseff, desigualdades sociais e educacionais intoleráveis e por aí afora, mas esses males não são recentes em nossa história. Nem somados eles constituiriam uma ameaça ao regime democrático. Esta se configurou pelo péssimo desempenho de algumas instituições, entre as quais o Supremo Tribunal Federal e pela amazônica corrupção desvendada pela Operação Lava-Jato. Também entre nós, a ameaça deve-se à ascensão à presidência de um indivíduo errático, truculento e irresponsável, o Sr. Jair Bolsonaro, o que por sua vez se deveu à estúpida radicalização causada por quase quinze anos de governos petistas.

Nos Estados Unidos, as desigualdades sociais, a xenofobia contra os imigrantes e o racismo estão em um ponto agudo que beira o incompreensível