Pronto.

Acabou.

O último domingo registrou o final do período mais obscuro da política brasileira desde a ditadura militar.
Ou não. Chego a pensar que os últimos quatro anos talvez tenham sido ainda piores do que os anos que sucederam
o golpe de 64.

(Sim. Foi um golpe e não uma revolução, se você é um dos brasileiros que, como nosso ex-presidente, também pretende reescrever nossa História)Afinal, mais terrível do que tanques na rua, mais assustador do que a perda de direitos e liberdades, mais trágico do que perseguições, prisões injustas, torturas e mortes impostas pelos militares, é quando a distopia é consequência do aval do voto popular, como foi o caso em 2018.

Voto de uma parcela da população que levou Bolsonaro ao poder e que ainda continua nas ruas, no lugar dos tanques dos anos de chumbo.

Gente que, em boa parte, continua com uma surreal esperança de que o Exército tomará alguma atitude para resgatar o que acreditam ser a nossa Pátria.

Uma Pátria que não é a da maioria dos brasileiros como provado nas urnas em 2022.

Verdade que o governo Bolsonaro não se constituiu em uma ditadura, apesar dos sinais que o ex-presidente deu de sua vocação autoritária, como no Sete de Setembro de 2021, que eternamente será lembrado por aquele tanque de guerra queimando óleo.
Uma perfeita metáfora visual das ridículas crenças do bolsonarismo.

Não foi uma ditadura, mas os quatro anos passados foram marcados pela imposição de uma nova ética autoritária.

As semelhanças são inúmeras.

Como numa ditadura, direitos foram cerceados.

Por exemplo, o direito à informação, ao submeter o País a uma inédita enxurrada de fake news.

Ou ao retirar dos povos originários o direito à segurança de áreas demarcadas.

Ecos do militarismo, do golpe, ao impor uma cultura bélica armando a população.

Mortes trágicas e injustificáveis em número exponencialmente maior do que no período de exceção, desta vez não pela tortura mas como consequência inequívoca de uma nefasta combinação de negacionismo e incompetência.

Em última análise, para as famílias que perderam gente querida, a tristeza e o desamparo teve a mesmo origem da ditadura: um governo cuja ideologia superou a valorização da vida.

Tivemos até um suposto milagre econômico, ao menos pelos dados oficiais que – como o anterior – também deixa, consequência da irresponsabilidade, uma herança maldita que o governo Lula terá que enfrentar nos próximos meses.

Diferente daqueles tempos, este durou pouco e foi coroado com o auto-exílio do ex-presidente na passagem da faixa.

Como não estamos tratando de um intelectual, como FHC que foi dar aulas na Sorbone durante o golpe, nosso exilado preferiu esconder-se na Disney, entre Mickey, Pateta e companhia.

Outra metáfora perfeita.

Não foi exílio, o ex-presidente preferiu esconder-se na Disney, entre Mickey, Pateta e companhia

Pronto.

Acabou.

E o último domingo também nos deu sua metáfora visual inesquecível.

A cena onde Lula sobe a rampa acompanhado de brasileiros entra imediatamente para os livros de História.

Nunca, na nossa História, um presidente mostrou suas prioridades tão explicitamente como Lula. Nunca, na nossa História, deixamos tão claro para o mundo a intenção de resgatar nossa democracia. Nunca, na nossa História, abrimos mão do protocolo — como no caso do cancelamento da salva de tiros — por um bem maior.

Nada disso, evidente, dá carta branca a esse novo governo.

Começa agora, para nós cidadãos, uma nova fase de constante atenção às decisões que virão por aí.

Mas a sensação que restou do último domingo é uma só: alívio.

O Brasil de paz e respeito está de volta.