Jair Bolsonaro não entende de economia, mas entende de demagogia. Diante do aumento dos preços dos itens da cesta básica, sua primeira reação foi empurrar o problema para os supermercados. Disse que quem vende os produtos ao consumidor final deve ter espírito patriótico e não repassar o aumento, reduzindo as margens de lucro. 

Só na manhã de hoje o presidente se reuniu com os ministros da Economia e da Agricultura para discutir soluções mais técnicas. Do encontro saiu a decisão de baixar as tarifas de importação de arroz, um dos itens que mais pressionam o índice de inflação.

Mas outras causas concorrem para o encarecimento da cesta básica. Demanda externa e cotação do dólar são fatores que o presidente não pode controlar e acabam se refletindo nos preços internos. Especula-se que até mesmo o auxílio emergencial, por aumentar o consumo de muitas famílias nos últimos meses, tenha incrementado o preço da comida.

Quando não há resposta fácil, inventa-se uma resposta estúpida. Com seu apelo ao patriotismo (último refúgio dos canalhas, como dizia um sábio inglês) e à redução dos lucros, Bolsonaro conseguiu lembrar ao mesmo tempo dois ex-presidentes, José Sarney e Dilma Rousseff. 

Sarney, nos anos 80, queria domar a inflação congelando preços e transformando cada consumidor em um “fiscal” da sua política. Por algum tempo, as pessoas levaram a sério. Deu confusão na porta de algumas vendas e supermercados. Mas como preços têm dinâmica própria e não batem continência para governantes, logo a inflação estava galopando tão rápido quanto antes. 

Antonio Sachsida, da equipe econômica do governo, tentou defender Bolsonaro dessa comparação. Disse que em momento nenhum ele falou em tabelar preços, o que é verdade. Mas o presidente não resistiu à tentação de empurrar a responsabilidade para os empresários, nem à condenação medieval dos lucros.

Nisso ele lembra Dilma. Em 2014, ela baixou na marra os preços da energia elétrica, num momento em que a demanda estava alta. Para isso, mexeu em regras de concessão do setor, antecipando o vencimento de alguns contratos. Igualzinho a Bolsonaro, a presidente não entendia muito bem o lucro, essa coisa feia do capitalismo. Achava que ao longo dos anos os concessionários já haviam ganho demais, estava na hora de se contentarem com valores que ela achava adequados (para os seus planos de reeleição).

Poucos meses depois, como a demanda prosseguia forte, não deu mais para segurar: os valores da conta de luz explodiram. Ainda sobrou para o contribuinte uma indenização de dezenas de bilhões de dólares que teve de ser paga ao setor bagunçado por Dilma. 

São todos farinha do mesmo saco, adeptos da escola brasileira de demagogia para governantes.