DEM projeta maior vitória eleitoral em três décadas

DEM projeta maior vitória eleitoral em três décadas

Na véspera das eleições municipais, candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro continuam empacados nas principais cidades, mas o DEM saiu da sombra e hoje lidera a corrida em Salvador, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis e Macapá. A perspectiva de vitória em cinco capitais após um longo período de declínio em disputas passadas só é comparável ao quadro de 1988, quando o DEM ainda se chamava PFL.

Naquele ano, o então PFL elegeu 1.058 prefeitos no País, sendo cinco em capitais. Na arena municipal, só perdeu para o PMDB, hoje MDB. Na última eleição, porém, conquistou apenas 268 prefeituras.

As eleições para prefeitos e vereadores são, na prática, o primeiro passo para o projeto de poder desse partido de centro-direita, que comanda a Câmara dos Deputados e o Senado, rumo à sucessão presidencial de 2022. Com três governadores (Goiás, Mato Grosso e Tocantins), 28 deputados federais e 5 senadores, o DEM lançou 33.270 concorrentes na campanha de 2020. Desse total, 1.158 são candidatos a prefeito.

Apoiado pelo prefeito de Salvador ACM Neto, que preside o DEM, Bruno Reis está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto na capital baiana. Além dele, Eduardo Paes (Rio), Rafael Greca (Curitiba), Gean Loureiro (Florianópolis) e Josiel Alcolumbre (Macapá) continuam na liderança. Somente em Macapá a eleição não será amanhã e terá de ser realizada em 13 e 27 de dezembro.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu adiar a disputa na capital do Amapá, acatando o argumento de que o apagão de energia elétrica está provocando ali uma onda de violência. Irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), Josiel está na frente, mas caiu nove pontos e seus adversários estranharam o fato de o adiamento da eleição valer apenas para Macapá, uma vez que 13 dos 16 municípios do Estado estão às escuras.

Depois de encolher durante o período em que foi oposição aos governos do PT e amargar um reveses até as eleições de 2016, o partido se aproximou de outros atores políticos. Desde a campanha de 2018, quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), queria apoiar a candidatura de Ciro Gomes (PDT) ao Palácio do Planalto, o DEM tenta se reposicionar no jogo com uma fisionomia que alia o liberalismo na economia a uma agenda social.

Na disputa de 2018, porém, o grupo de Maia foi vencido. Nos bastidores, havia comentários de que não seria possível sustentar internamente uma guinada tão forte, porque Ciro descia “quadrado” no partido. Diante das divergências, a legenda acabou avalizando o tucano Geraldo Alckmin, que ficou em quarto lugar e teve o pior desempenho da história do PSDB em confrontos presidenciais.

Agora, no entanto, o DEM procura construir com antecedência o caminho para furar a polarização entre a esquerda e a extrema-direita, daqui a dois anos, adotando um estilo de contraponto a Bolsonaro, mesmo ocupando dois ministérios (Cidadania e Agricultura) e cargos no governo. A estratégia tem irritado o presidente, para quem a vida no Planalto é “uma desgraça”, cheia de problemas.

O apresentador de TV Luciano Huck foi convidado para se filiar ao DEM, mas ainda não definiu seu futuro político. Maia disse recentemente que a maioria do partido, hoje, prefere a candidatura de Huck à do governador João Doria (PSDB) ao Planalto, em 2022.

A declaração provocou um terremoto político, mesmo porque o DEM divide o governo com Doria em São Paulo e tem um acordo alinhavado para apoiar o tucano à sucessão de Bolsonaro. No arranjo que prevê a saída de Doria, o atual vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), será candidato ao Palácio dos Bandeirantes, daqui a dois anos, com respaldo do PSDB.

Além disso, os tucanos e o DEM são aliados em várias cidades. A principal parceria é em São Paulo, na campanha pela reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB), que está disparado na frente em todas as pesquisas. O deputado Celso Russomanno (Republicanos), candidato de Bolsonaro, ocupa a terceira posição nesse ranking.

A definição da aliança de centro-direita rumo ao Planalto ainda depende, porém, do que vai ocorrer na segunda metade do mandato presidencial, a partir de 2021. “Os próximos seis meses do governo Bolsonaro serão decisivos para seu fortalecimento ou enfraquecimento”, disse Maia. “O centro precisa procurar um caminho, porque tem convergência em relação à economia, mas muitas divergências nas outras pautas.”

Na lista de nomes que têm participado das conversas sobre a construção de um novo polo político para fazer frente ao bolsonarismo estão, além de Huck, o ex-juiz Sérgio Moro, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, filiado ao DEM, e o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB.

ACM Neto se recusa a traçar cenários para 2022. “A gente está se reinventando no Brasil todo e vem num processo de crescimento consistente. Se vamos ter ou não projeto presidencial próprio é outra história”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.