O brasileiro adora uma desgraça. Comemora o fracasso alheio. Dirige devagar para ver um acidente, sem querer ajudar. Filma um assalto para cliques na Internet. Para a caminhada para ver alguém pular de um prédio – e torce por isso. Não é diferente na política. O fracasso alheio é combustível para opositores.

Foi assim com Deltan Dallagnol. Este repórter testemunhou, num jantar em hotel, duas mesas de políticos comemorando a cassação do deputado federal pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral.

E isso não é bom para o Brasil. Deltan foi eleito com mais de 344 mil votos de cidadãos do Paraná que se sentiram representados em sua figura no combate à corrupção. Mas o que os opositores, inimigos e bandidos evidenciam até hoje é o famigerado PowerPoint em que culpava Lula da Silva por toda a corrupção nas descobertas da Operação Lava Jato – um exagero, claro, mas não mentira.

Temos um presidente desnudo, hoje, que se diz inocente mas não o é, ainda, à luz da Lei. Rotas tortas do Judiciário brasileiro, amparadas num mapa de incorreções dos códigos penal e civil e dos processos, levam libertados a confundirem soltura com absolvição. Vide o rolé deslumbrado de Sérgio Cabral no Rio de Janeiro.

Nesses caminhos da imperfeição jurídica nacional, no melhor juridiquês tabajara – porém protegidos pela toga preta da liga -, os ministros do TSE lançaram mão de uma condicionante de punibilidade para chicotear Deltan em público: baseados numa eventual culpa no âmbito do conselho do Ministério Público, do qual ele, na visão dos ministros, fugiu para se candidatar antes de ser julgado internamente. Fica a pergunta: e se fosse inocentado pelos seus pares?

O TSE inteiro parece aquele motorista que passa devagar para ver a tragédia. Deltan é um corpo estendido no chão. O Brasil chora e ri de si mesmo.