O ex-procurador da República e ex-deputado federal Deltan Dallagnol fez uma publicação nesta quarta-feira, 10, em seu perfil no X (antigo Twitter) comemorando o voto dado pelo ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), com a frase “In Fux we trust”, dita pelo ex-juiz Sérgio Moro em uma conversa vazada da Lava Jato.
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A expressão, que traduzida do inglês significa “Em Fux nós confiamos” foi dita por Moro em um diálogo com Dallagnol no Telegram em abril de 2016, após a divulgação de conteúdos de grampos telefônicos de uma ligação entre a então presidente Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Confira a publicação de Dallagnol:
IN FUX WE TRUST! pic.twitter.com/cyNao24Dbv
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) September 10, 2025
Na ocasião, Dallagnol comentava em um grupo de procuradores uma conversa entre ele e Fux em que o ministro teria dito que poderiam “contar com ele”. “Os sinais foram ótimos. Falei da importância de nos protegermos como instituições”, escreveu o ex-deputado federal.
Em seguida, Dallagnol encaminhou uma mensagem de Moro que dizia: “Excelente. In Fux we trust”.
Operação Lava Jato e conversas vazadas
O ex-procurador da República Deltan Dallagnol chefiou a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba entre 2014 e 2020. Ele tinha a função de realizar as investigações, pedir prisões e quebras de sigilo a Sergio Moro durante as investigações.
A Lava Jato perdeu força a partir de 2018, quando o então juiz Sérgio Moro aceitou o convite de Jair Bolsonaro (PL), que acabara de se eleger presidente, para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Em 2019, um novo revés. Críticos da operação aumentaram o tom dos questionamentos após mensagens trocadas por procuradores e Moro, acessadas por um hacker, se tornarem públicas.
O conteúdo, revelado pelo site “The Intercept Brasil”, indicava uma parceria entre o então juiz e os procuradores na condução da Lava Jato, uma proximidade que, na avaliação de ministros do STF, violou a Constituição e regras básicas do Direito.
Voto de Fux
Após a retomada nesta quarta-feira, 10, do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus suspeitos de elaborarem uma trama golpista, o ministro Luiz Fux declarou durante seu voto que a Corte não tem competência para julgar o processo e absolveu os acusados do crime de organização criminosa.
Fux destacou que “a imputação do crime de organização criminosa exige mais do que a reunião de vários agentes para a prática de delitos, a pluralidade de agentes” e acrescentou que “a existência de um plano criminoso não basta para a caracterização do crime de organização criminosa.”
Ele lembrou que, no julgamento do processo do Mensalão, em 2012, o plenário absolveu oito dos 25 condenados do crime de formação de quadrilha.
Entre os absolvidos, estavam o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoíno, sob o argumento de que não teria havido a intenção da “prática indeterminada de uma série de crimes” – que segundo Fux seria uma das premissas para o crime de organização criminosa.
O ministro Luiz Fux acolheu também o argumento das defesas dos réus de que houve violação à garantia da ampla defesa no processo, considerando o volume de material apreendido e usado no processo e o tempo disponível para a sua análise pelos advogados.
Da trama ao tribunal
Na campanha frustrada para se reeleger, em 2022, Bolsonaro reuniu ministros, embaixadores estrangeiros e discursou para descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro, sugerindo ser vítima de uma fraude. Mais de 44 horas após o fechamento das urnas, admitiu a derrota, mas não desmobilizou apoiadores que bloqueavam estradas e acampavam em frente a quartéis do Exército, pedindo intervenção militar.
Conforme as investigações da Polícia Federal, o então presidente e um grupo de aliados — os outros sete integrantes do ‘núcleo 1’, réus no julgamento desta semana — articulavam alternativas para reverter a decisão popular naquele período.
Bolsonaro recebeu e editou documentos que dariam embasamento jurídico à ruptura institucional, se reuniu com os comandantes das Forças Armadas para consultar a anuência das tropas à ideia e teve conhecimento de um plano para executar o presidente Lula (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes antes da troca de governo.
Em 30 de dezembro, às vésperas de concluir o mandato, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos, não passou a faixa presidencial ao sucessor e só retornou ao país depois de três meses. Na ausência do político, apoiadores mantiveram os acampamentos em frente a quartéis, amplificaram as manifestações e invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes da República, em Brasília, em tentativa derradeira de mobilizar uma intervenção militar.
Em fevereiro de 2024, a PF deflagrou a Operação Tempus Veritatis, primeira a cumprir mandados relativos ao plano golpista, com base na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Em novembro, foi a vez da Operação Contragolpe, cujas apurações ampliaram o comprometimento do ex-presidente com a trama. As investigações embasaram uma denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), enviada ao STF em fevereiro de 2025.
Em março, Bolsonaro e os demais acusados de idealizarem e planejarem a ruptura tornaram-se réus no tribunal, que os acusou de cinco crimes, cujas penas, somadas, podem chegar a 43 anos de prisão:
– Organização criminosa armada;
– Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; – Golpe de Estado; – Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima; – Deterioração de patrimônio tombado.Para os advogados do ex-presidente, os episódios descritos na denúncia da PGR são políticos e, quando muito, atos preparatórios que não podem ser punidos criminalmente; por sua vez, os documentos que descreviam o plano de ruptura não têm assinatura ou valor de fato. Bolsonaro admitiu ter discutido “possibilidades” com os chefes das Forças Armadas após perder a eleição, mas disse não ter cogitado usurpar a democracia e repete que não há golpe sem tanques de guerra na rua.
*Com informações do Estadão e da Agência Brasil