Em diálogos enviados pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta-feira (4), os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato discutem como evitar que Lula saísse da prisão após um habeas corpus concedido pela Justiça em julho de 2018. As informações são da colunista Mônica Bergamo, da Folha.

No dia 8 de julho daquele ano, um domingo, o desembargador Rogerio Favreto, do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), determinou a soltura do ex-presidente, atendendo a um pedidos da defesa de Lula.

De acordo com a reportagem, essa decisão teria dado início a uma movimentação intensa dos procuradores e de magistrado para que Lula não fosse solto, e os diálogos enviados pela defesa do ex-presidente ao STF revelam algumas dessas iniciativas.

Segundo as conversas, houve uma orientação para que a Polícia Federal descumprisse a determinação de Favreto. Nesse mesmo dia, de férias, o então juiz Sergio Moro deu um despacho dizendo que Favreto era uma autoridade “absolutamente incompetente” para se sobrepor à ordem de prisão, que havia sido dada pela 8ª Turma do TRF-4.

Favreto derrubou o despacho de Moro e deu uma hora para que sua decisão fosse cumprida pela PF. De acordo com as conversas de Deltan, o desembargador João Pedro Gebran Neto, relator do processo de Lula no TRF-4, teria orientado a PF a manter Lula na prisão, na esperança de que o então presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, suspendesse a determinação de Favreto pela soltura.

Segundo Deltan, a então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, teria se envolvido diretamente para evitar a soltura. Ela teria telefonado para o então ministro da Segurança, Raul Jungmann, a quem a PF era subordinada, e pedido para que Lula não fosse solto.

“Carmem Lúcia ligou para Jungman e mandou não cumprir e teria falado tb com Thompson. Cenário tá bom”, escreveu Deltan em uma mensagem (mantida na grafia original).

Thompson Flores suspendeu naquele domingo a decisão de Favreto, e Lula não foi solto. À coluna de Mônica Bergamo, Jungmann disse que esse diálogo era uma “mentira”.

“Naquele dia, recebi telefonema da Cármen Lúcia e de várias pessoas que estavam preocupadas com a situação. Mas ela em nenhum momento me pediu absolutamente nada”, diz Jungmann. “Ela é juíza. Ela sabe que eu nada poderia fazer, nem para soltar, nem para manter alguém preso. Seria um crime, seria obstrução de Justiça”, continuou o ex-ministro.

Ainda segundo a coluna, Jungmann disse que irá interpelar Deltan Dallagnol para que o procurador “confirme ou desminta isso”. O ex-ministro disse que na conversa com Cármen Lúcia a ministra apenas manifestou preocupação com decisões desencontradas da Justiça. E disse que divulgaria uma nota.