Foi profético. Na noite de terça-feira 21, o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR) comemorou, em uma rede social, a prisão dos deputados peemedebistas Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi: “A faxina ainda não terminou. (…) Muito mais virá aí.” Acertou em cheio. Só não sabia que seria no próprio pé. Horas depois, Garotinho foi detido por agentes da Polícia Federal em seu apartamento, no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que sua mulher, Rosinha Garotinho, também ex-governadora estadual pelo PR, era presa em Campos de Goytacazes, cidade base do casal, no norte Fluminense. Eles foram presos na operação Caixa d’Água, da Polícia Federal e do Ministério Público Eleitoral de Campos. Na noite de quarta-feira 22, já dormiram em alas separadas da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, região Central, onde está o também ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). O presídio, então, passou a ter, atrás de suas grades, os três últimos comandantes estaduais do Rio e os quatro últimos presidentes da Assembleia Legislativa, incluindo o atual, Picciani. É o retrato mais bem acabado da falência moral das autoridades do Estado.

Folha da Manhã / Agência O Globo

Rosinha e Garotinho, a propósito, só estão nessa situação por serem criminosos contumazes. É a delinqüência reiterada elevada à quintessência. Não por acaso, ambos foram acusados de praticar delitos em série. Na decisão para prisão dele, a terceira este ano, o juiz Glaucenir de Oliveira, da 98ª zona eleitoral de Campos, escreveu: “Demonstra o citado réu personalidade voltada para a prática de crimes, uma vez que faz dos delitos uma forma característica de atuar na sociedade para obter autonomia política e se sustentar no poder.” Segundo o Ministério Público Estadual, ele seria chefe de uma organização criminosa, da qual a mulher faz parte, que cometeu crimes eleitorais e usou até armas de fogo para corromper e extorquir. A quadrilha negociava propinas com as empresas que tinham negócios com o estado ou município administrados por ambos.

E a faxina, como vaticinou Garotinho, continuou. Outras sete pessoas tiveram mandados de prisão expedidos, entre os quais, Antonio Carlos Rodrigues — não encontrado até o fechamento dessa edição —, presidente do PR, apontado como responsável pelo caixa dois de campanhas eleitorais de 2010, 2012, 2014 e 2016. Na quinta-feira 23, a justiça prendeu o ex-secretário da Casa Civil nos dois mandatos de Cabral, Régis Fichtner, acusado pelo Ministério Público Federal de receber R$ 1,5 milhão de propina, tendo usado até o Palácio Guanabara, sede do governo, para recolher valores ilícitos, além de Georges Sadala, sócio do Rio Poupa Tempo, cujo patrimônio pulou de R$ 1,5 milhão para R$ 35 milhões nas duas gestões de Cabral. Se alguém ainda ousava procurar uma explicação para a derrocada do Rio, agora não falta mais.

Segundo a acusação, Garotinho chefiou uma organização criminosa que cometeu crimes eleitorais e usou até armas de fogo para corromper e extorquir