Uma das figuras onipresentes da política brasileira, conselheiro de ex-presidentes desde a ditadura militar e conhecido como o ministro do ‘milagre econômico’, Antônio Delfim Netto, aos 89 anos, foi alvo da 49ª fase da Lava Jato, batizada de “Operação Buona Fortuna”, realizada na sexta-feira 9. Há quem diga que até demorou para Delfim ser alvo da Lava Jato. Ele é acusado de receber R$ 15 milhões em propina do Consórcio Norte Energia, responsável pela construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Até o momento, o Ministério Público Federal já rastreou R$ 4 milhões recebidos através de empresas de fachada em nome de Delfim Netto e de seu sobrinho, Luiz Appolonio Neto. Na sexta-feira, a PF fez buscas na casa e escritório do ex-deputado.

ENRASCADO O ex-deputado Delfim Netto está em apuros. Na sexta-feira, a PF fez buscas de documentos em seu escritório (Crédito:Claudinei Ligieri)

O MPF garante ter provas de que a consultoria nunca foi prestada. Tratava-se de uma forma de mascarar os repasses ilícitos. Segundo a Lava Jato, Delfim usou sua influência política junto ao governo Dilma para direcionar o leilão da usina de Belo Monte para que o Consórcio Norte Energia fosse o vencedor. Em contrapartida, recebeu 10% do total de propinas pagas pelas empreiteiras que integravam o consórcio, como Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, OAS e J. Malucelli. Durante a ditadura, Delfim foi ministro do Planejamento e era conhecido como “o ministro 10%”, por receber propinas nesse valor para execução de obras públicas. Os outros 90% dos subornos de Belo Monte foram divididos entre PT e MDB, sendo 45% para cada partido. Ou seja, dos R$ 135 milhões pagos em propinas na construção da usina, mais de R$ 60 milhões foram parar nos bolsos de petistas e emedebistas. O porta-voz do governo no esquema foi Antônio Palocci, ex-ministro de Lula e Dilma Rousseff, hoje preso, que orientou as empresas sobre o destino dos recursos desviados.

O “professor”

Os pagamentos da Odebrecht foram feitos através do sistema Drousys, plataforma usada para gerenciar repasses ilícitos. Nas planilhas de propina da construtora, Delfim tinha o codinome de “professor”. Em junho de 2016, ao ser citado pela primeira vez na Lava Jato, ele admitiu ao MPF ter recebido R$ 240 mil da Odebrecht. Mas disse que o dinheiro era referente a serviços de consultoria, apesar de ter recebido “sem contrato assinado”. Segundo o procurador Athayde Ribeiro Costa, Delfim “não falou a verdade e tentou mascarar o recebimento de vantagens indevidas através de contratos fictícios de consultoria”.

O procurador ainda falou em “efeitos nefastos da corrupção”, pois a obra de Belo Monte causou elevados prejuízos econômicos para toda sociedade: “Além de assolar os cofres públicos, há problemas ambientais e sócio-ambientais na hidrelétrica e a gente vê o dinheiro engordando os bolsos de políticos”. Essa foi a primeira operação da Lava Jato para apurar irregularidades em Belo Monte. Políticos de PT e MDB também são investigados e novas ações ainda serão realizadas. O modus operandi da corrupção em Belo Monte era igual ao da Petrobras. Mais um fio do novelo foi puxado.