Em sua delação premiada, o ex-presidente da Construtora Norberto Odebrecht Benedicto Júnior disse ver “com clareza” uma “troca” entre doações eleitorais feitas pelo grupo ao hoje senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e o atendimento de um interesse da empreiteira em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. O relato aparece em vídeo do delator, divulgado nesta quarta-feira, 12, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) após o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, ter autorizado o levantamento do sigilo do caso.

O executivo, conhecido como BJ na empresa, revelou que a empresa apoiou com dinheiro de caixa 2 a campanha de Lindbergh à prefeitura de Nova Iguaçu em 2008 e, posteriormente, a campanha do petista ao Senado, em 2010. Enquanto o petista esteve à frente de prefeitura no Estado do Rio, a Odebrecht teve um apelo atendido: conseguiu unir em um consórcio só a execução de uma obra que era divida em três lotes. Isso gerou uma economia em custo para o grupo.

“Que eu me lembre, nós tínhamos ganhado uma concorrência que eram três lotes. (…) Foi feito um pleito a ele (Lindbergh) que três obras na mesma região, com mesmo objeto, gerava um custo administrativo expressivo, eram obras com preço muito apertado da Caixa Econômica. Foi feito um pleito a ele para que a gente pudesse juntar isso num consórcio só. E ele anuiu que os consórcios fossem consolidados”, disse BJ ao MPF. “Enxergo com clareza essa relação nossa de ajudá-lo em campanha e a possibilidade de unir os consórcios como sendo uma troca que ele fez conosco, com os meus executivos lá no dia a dia”, afirmou.

O executivo, no entanto, disse que não encontrou registros do pagamento feito em 2008 para a campanha. Segundo ele, na época a empresa começava a usar o sistema Drousys, onde comunicavam os pagamentos.

Duda Mendonça

Sobre 2010, o executivo encontrou registros dos pagamentos e os apresentou ao Ministério Público. “Passada essa campanha (de 2008), em 2010, ele postulou uma candidatura a senador, voltou a me procurar pediu novamente um valor numa dimensão muito maior. Se eu não estou enganado o pedido foi de R$ 4 milhões e nós conseguimos fazer R$ 3,2 milhões. Nós encontramos algumas evidências que os pagamentos foram feitos através do marqueteiro dele à época”, disse BJ. Na campanha de 2010, segundo o executivo, o marqueteiro do petista que recebeu os pagamentos em espécie, por meio de caixa 2, foi Duda Mendonça.

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Os codinomes usados pela empreiteira nas planilhas eram “lindinho” ou “feio”. BJ disse que só tratava com o político sobre repasses à campanha eleitoral. O dia a dia de discussão sobre obras era feito pelos demais executivos da construtora. “Eu nunca sentei para discutir como ia ser a obra, nem a junção dos consórcios eu discuti com ele”, disse BJ.

Lindbergh é alvo de investigação aberta por Fachin em razão das delações da Odebrecht. Ele é suspeito de receber R$ 4,5 milhões em caixa 2, pagos pelo grupo Odebrecht entre os anos de 2008 e 2010.

Em nota oficial divulgada na terça-feira, 11, o senador disse que as investigações vão esclarecer os fatos. “Estou convicto que o arquivamento será o único desfecho possível para esse processo. Novamente a justiça será feita”, informou por meio de nota.


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