Como previsto, o País registrou deflação em julho: 0,68%, número que levou o índice a cair para 10,07% no acumulado de 12 meses. É um alívio, mas dentro de um cenário grave. Há mais de um ano o País sofre com uma inflação de dois dígitos, o que corrói o poder de compra, inviabiliza o planejamento de empresas e desorganiza as contas públicas.

Grave também é a razão desse montante “anômalo” no mês de julho. Ele ocorreu puxado pela queda no preço dos combustíveis e da energia, que foram abaixados artificialmente pela redução de impostos estaduais e intervenção na Petrobras. Segundo o IBGE, os preços da gasolina caíram 15,48%, e os do etanol, 11,38%, enquanto o custo da energia baixou 5,78%. Neste dia 9 também começam começa a ser pago o Auxílio Brasil com aumento de 50% e para um número maior de contemplados.

O pacote de bondades eleitorais será turbinado ainda este mês com auxílios para caminhoneiros e taxistas e o vale-gás, hidrocarboneto que viveu uma explosão de aumentos, ao contrário do que o ministro da Economia anunciou com estardalhaço. Tudo isso foi feito alterando a Constituição para permitir um derrame de benefícios com dinheiro público a menos de dois meses do pleito.

As consequências após as eleições serão desastrosas. Os pobres podem ficar sem o incremento no Auxílio Brasil a partir de janeiro, já que o valor extra vale apenas até o fim do ano, ou seja, até a votação. Também terão de devolver os empréstimos consignados que foram autorizados a contrair com juros superiores a 80% ao ano. O governo autorizou esse endividamento popular com o novo Bolsa Família de forma irresponsável. Trata-se de uma exploração política da miséria com uma população que já está endividada e não tem educação financeira, manobra digna dos antigos coronéis que se perpetuavam no poder com o voto de cabresto.

O rombo no Orçamento patrocinado pelo presidente é multibilionário e vai perdurar por muitos anos atingindo toda a sociedade e a economia como um todo. Isso significa menos crescimento e juros mais altos para segurar uma inflação persistente em função do descontrole nas contas públicas e da nova dívida pública contratada. No exterior, o País ainda vai enfrentar uma recessão global que se anuncia.

Esse quadro desolador foi causado por Bolsonaro e também por Lula, que autorizou a farra fiscal por meio de seus partidários no Congresso. Por isso, o ex-presidente vê sua vantagem na eleição diminuir, assim como as chances de liquidar a fatura no primeiro turno virarem pó. O petista acaba de se queixar que Bolsonaro “está fazendo a “maior distribuição de dinheiro que uma campanha já viu desde o fim do Império”. Ele entende do riscado.

Em 2006, quando escapou por pouco do escândalo do Mensalão, Lula também patrocinou a multiplicação do Bolsa Família para ganhar um novo mandato. Essa política leviana também ajudou em 2014 a reeleição de Dilma Rousseff, que quebrou o setor de energia do País para diminuir as contas de luz (a conta ainda está sendo paga pelo consumidor).

Esse acordão antecipa um cenário difícil para o País em 2023, quando Lula ou Bolsonnaro estarão no Planalto, segundo as pesquisas de opinião. Os dois são contra o teto de gastos e, na prática, detonam o arcabouço de responsabilidade fiscal duramente construído depois da hiperinflação. Em um novo governo, Bolsonaro teria de enfrentar o repique de sua patuscada eleitoreira. Já Lula não apresentou até agora nenhum plano que atraia efetivamente o investimento. Esconde embaixo do tapete a maior recessão da história causada por Dilma, e acena apenas com a volta da fartura de sua gestão, há quase 20 anos, que se beneficiou de um boom de commodities. Ele agora promete apenas mais benefícios para os miseráveis, que, por meio da inflação ou uma nova recessão contratada para o futuro, pagarão mais uma vez a conta do populismo fiscal.