Defesa negou apoio ao RJ e não cabia pedido de GLO, diz ex-comandante do Bope

André Luiz de Souza Batista fala em 'êxito operacional', mesmo com 119 mortos, pela quantidade de criminosos neutralizados

Policiais patrulham rua no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro
Policiais patrulham rua no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro Foto: AP

Ex-comandante do Comando de Operações Especiais do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) do Rio de Janeiro e coautor de “Elite da Tropa”, que inspirou o filme “Tropa de Elite”, o coronel André Luiz de Souza Batista afirmou à IstoÉ que o governo do estado fez três pedidos de apoio logístico em operações contra o Comando Vermelho ao Ministério da Defesa, mas eles foram negados.

“A negativa foi alicerçada por um parecer da Advocacia-Geral da União, que condicionou [o apoio logístico] à solicitação de um decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem)“, disse Batista. “Os blindados da Marinha são mais eficientes contra barricadas e dão mais segurança às tropas, por isso foram solicitados. Diante da recusa, usamos blindados da Polícia Militar”.

A fala reforça a posição do governador Cláudio Castro (PL), que havia dito que as solicitações foram negadas e que o estado está “sozinho” no combate ao Comando Vermelho. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse não ter recebido “nenhum pedido” da gestão; o Ministério da Defesa confirmou que só poderia conceder o apoio em caso de decreto de GLO, que cabe ao presidente da República (entenda aqui como funciona).

Para ex-comandante, GLO depende de ‘falência operacional’

Deflagrada nos complexos do Alemão e da Penha, a megaoperação contra o crime organizado deixou 119 mortos, incluindo quatro policiais, segundo o governo Castro, enquanto a Defensoria Pública do estado fala em 132 vítimas. Corpos ainda são identificados na região e ativistas têm classificado o episódio como um “massacre” promovido pelas autoridades.

Na avaliação do ex-comandante do Bope, o número de agentes mortos e criminosos neutralizados dá proporções inéditas à ação. “Uma operação eficiente não teria policiais mortos, mas 113 presos e 119 criminosos mortos com 97 fuzis e 26 armas leves apreendidas fora de circulação refletem êxito em relação ao resultado operacional“, afirmou Batista.

Para o coronel, não havia justificativa para solicitar a Garantia da Lei e da Ordem ao governo Lula (PT) e, assim, mobilizar as Forças Armadas para a região. “As polícias estaduais são perfeitamente capazes de organizar, planejar e executar uma operação com essa envergadura. A decretação de GLO é justificada pela falência operacional”, disse à IstoÉ.

Não há outra alternativa [para combater o Comando Vermelho] a não ser ocupar o terreno e devolver a soberania ao Estado“, concluiu.