Ex-comandante do Comando de Operações Especiais do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) do Rio de Janeiro e coautor de “Elite da Tropa”, que inspirou o filme “Tropa de Elite”, o coronel André Luiz de Souza Batista afirmou à IstoÉ que o governo do estado fez três pedidos de apoio logístico em operações contra o Comando Vermelho ao Ministério da Defesa, mas eles foram negados.
“A negativa foi alicerçada por um parecer da Advocacia-Geral da União, que condicionou [o apoio logístico] à solicitação de um decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem)“, disse Batista. “Os blindados da Marinha são mais eficientes contra barricadas e dão mais segurança às tropas, por isso foram solicitados. Diante da recusa, usamos blindados da Polícia Militar”.
A fala reforça a posição do governador Cláudio Castro (PL), que havia dito que as solicitações foram negadas e que o estado está “sozinho” no combate ao Comando Vermelho. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse não ter recebido “nenhum pedido” da gestão; o Ministério da Defesa confirmou que só poderia conceder o apoio em caso de decreto de GLO, que cabe ao presidente da República (entenda aqui como funciona).
Para ex-comandante, GLO depende de ‘falência operacional’
Deflagrada nos complexos do Alemão e da Penha, a megaoperação contra o crime organizado deixou 119 mortos, incluindo quatro policiais, segundo o governo Castro, enquanto a Defensoria Pública do estado fala em 132 vítimas. Corpos ainda são identificados na região e ativistas têm classificado o episódio como um “massacre” promovido pelas autoridades.
Na avaliação do ex-comandante do Bope, o número de agentes mortos e criminosos neutralizados dá proporções inéditas à ação. “Uma operação eficiente não teria policiais mortos, mas 113 presos e 119 criminosos mortos com 97 fuzis e 26 armas leves apreendidas fora de circulação refletem êxito em relação ao resultado operacional“, afirmou Batista.
Para o coronel, não havia justificativa para solicitar a Garantia da Lei e da Ordem ao governo Lula (PT) e, assim, mobilizar as Forças Armadas para a região. “As polícias estaduais são perfeitamente capazes de organizar, planejar e executar uma operação com essa envergadura. A decretação de GLO é justificada pela falência operacional”, disse à IstoÉ.
“Não há outra alternativa [para combater o Comando Vermelho] a não ser ocupar o terreno e devolver a soberania ao Estado“, concluiu.