A defesa do ex-chefe do narcotráfico “El Chapo” atacou ferozmente, nesta quarta-feira (14), em seu julgamento em Nova York, a credibilidade de seus ex-sócios, que cooperam com a Promotoria, mais foi repreendido pelo juiz por acusar de corrupção o governo do México e agentes da DEA sem provas.

O segundo dia do grande julgamento contra um dos chefes do tráfico mais famosos do mundo, Joaquín “Chapo” Guzmán, de 61 anos, começou com o pedido da Promotoria para que o juiz Brian Cogan desconsidere as declarações do advogado de “El Chapo”, Jeffrey Lichtman, em suas alegações iniciais de terça-feira.

O juiz se opôs a essa medida tão direta, mas advertiu Lichtman que as supostas propinas recebidas pelo atual presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, e por seu antecessor, Felipe Calderón, por parte do sócio de “El Chapo”, Ismael “Mayo” Zambada, uma explosiva acusação feita na terça por este advogado, são irrelevantes “se não estiverem vinculadas ao acusado”.

A defesa de “El Chapo” assegura que ele foi vítima de uma “montagem” do governo mexicano e de agentes da DEA, e que o verdadeiro chefe do cartel de Sinaloa sempre foi Zambada, com 70 anos e foragido da justiça, acusado junto com Chapo em 2009 em um tribunal do Brooklyn.

Cogan também esclareceu ao júri que as alegações iniciais de ambas as partes não são evidências e que, na hora de decidir o veredicto, devem determinar se o acusado é culpado para além de toda a dúvida razoável.

A primeira testemunha do governo nesta quarta-feira foi Carlos Salazar, um agente de alfândega aposentado que descobriu, em maio de 1990, um túnel de 40 metros atribuído a “El Chapo” para transportar a droga entre Agua Prieta, no México, e Douglas, no Arizona, onde o governo apreendeu uma tonelada de cocaína.

– Os ex-sócios de El Chapo que ajudarão os EUA –

Lichtman adiantou os nomes de algumas testemunhas que cooperam com a Promotoria, as quais chamou de “lixo”, “degenerados” e “mentirosos”. Entre elas estão um filho e um irmão de Zambada presos nos Estados Unidos.

Veja a seguir alguns dos ex-sócios de “El Chapo” que cooperarão com o governo, segundo Lichtman:

– Miguel Angel Martínez, ex-braço direito de Chapo: “Tomava quatro gramas de cocaína por dia, uma quantidade incrível que supera o consumido em quatro festas universitárias dos anos 1980; mentiu ao governo durante 15 anos”, disse o advogado de “El Chapo”. Insistiu que “caiu o nariz” de Martínez de consumir tanta cocaína, e disse ao júri que, apesar de tudo, este ex-traficante foi libertado pelas autoridades e recebeu 150.000 dólares “pagos por vocês, contribuintes americanos”.

– Cesar Gastelum Serrano, traficante colombiano que trabalhou com o cartel de Sinaloa: segundo Lichtman, subornou candidatos presidenciais na Guatemala e um ex-presidente de Honduras, além de ex-funcionários hondurenhos que não identificou. “O presidente de Honduras foi subornado por uma testemunha que coopera com os Estados Unidos!”, exclamou. Lichtman assegura que esta testemunha matou um promotor de Honduras e esteve envolvido em um plano para matar um ex-presidente desse país.

– Hildebrando “Alex” Cifuentes e Jorge Cifuentes: dois irmãos narcotraficantes colombianos. O primeiro esteve preso na Colômbia e o segundo em Nova York. Ambos teriam crescido em uma família de traficantes. Segundo Lichtman, a mãe de Alex lhe dava conselhos sobre como traficar drogas por telefone. Jorge subornou um agente da DEA com drogas, disse Lichtman. O advogado afirmou que, incrivelmente, e não devido ao azar, “El Chapo” ficou frente a frente com Alex Cifuentes em sua prisão de Nova York, e que este lhe contou.

– Dámaso López, conhecido como Licenciado: ex-braço direito de “El Chapo” detido em maio de 2018 no México após se entregar à agência antidrogas americana, a DEA. Era chefe da prisão da qual Chapo fugiu em um carrinho de roupa suja em 2001. Seu filho, conhecido como Mini Licenciado, também pode ser testemunha do governo, disse Lichtman.

– Um filho e um irmão de Mayo Zambada, Vicentillo Zambada Niebla e Jesús “El rey” Zambada, ambos detidos nos Estados Unidos, podem testemunhar.