A britânica Kate Isaacs, de 30 anos, descobriu em 2020 que circulava pelas redes sociais um vídeo em que ela aparecia tendo relações sexuais com outra pessoa. Aterrorizada com aquelas cenas explícitas, a jovem tentou se lembrar de quando aquela situação poderia ter acontecido. Depois de analisar o vídeo, ela percebeu que o rosto era o seu, mas o corpo não. Então ela descobriu que havia sido vítima de pornografia deepfake. As informações são do portal Metro UK.

Basicamente, a tecnologia deepfake, uma espécie de Inteligência Artificial (IA), pega o rosto de uma pessoa e mescla com outras imagens para criar uma realidade diferente.

Essa tecnologia é utilizada para fabricar notícias falsas, fraudes financeiras e até mesmo conteúdos de pornografia e pornografia infantil.

No caso da pornografia, os desenvolvedores pegam uma imagem de conteúdo adulto e colocam o rosto de outra pessoa. Um estudo feito pela Queen Mary University of London apontou que 96% dessas deepfakes são de mulheres.

“Pesquisas realizadas em 2018 pela empresa de detecção de fraude Sensity AI previram que o número dobraria a cada seis meses. Com o avanço rápido de quatro anos e essa profecia se tornou realidade e mais um pouco. Existem mais de 57 milhões de acessos para ‘pornografia deepfake’ somente no Google. O interesse de pesquisa aumentou 31% no ano passado e não mostra sinais de desaceleração”, informou a jornalista Jennifer Savin, que cobre esse assunto há quatro anos.

Além das anônimas, algumas celebridades já foram vítimas disso. Em 2017, deepfakes da atriz Zendaya, da cantora Billie Eilish e da atriz Scarlett Johansson foram compartilhadas no fórum online Reddit.

Para fazer isso não é necessário muito conhecimento e softwares sofisticados. Aplicativos disponíveis, como o FaceMagic, podem ser usados para criar deepfake.

“Você não precisa de uma pasta inteira de ângulos diferentes, basta carregar uma foto e pode fazer um vídeo pornô deepfake em segundos. Eles podem não parecer os mais realistas, mas ainda é o suficiente para sentir vergonha e humilhação. Isso que é realmente assustador, essa tecnologia está tecnicamente nas mãos de todos que têm um smartphone, FaceMagic está na Apple Store para maiores de 12 anos, então se você pode acessá-lo se estiver no sétimo ano da escola”, disse a documentarista Jess.

Infelizmente ainda não existe uma regularização específica para deepfake. “Se queremos avançar e proteger as pessoas desse tipo de crime, precisamos examinar o sistema de legislação, porque os sistemas que temos para a tecnologia simplesmente não são adequados para esse propósito. Não pode levar cinco anos para fazer uma revisão e depois agir, porque estará desatualizado”, disse Kate.

“Do ponto de vista ativista e como alguém que passou por isso como vítima, precisamos regular essas indústrias. O fato é que existem aplicativos disponíveis que são legalizados e o fato de os sites pornográficos poderem postar, visualizar e compartilhar seu conteúdo sem o seu consentimento é um grande problema. A questão é que nós, britânicos, somos tão pudicos que não queremos ter essa conversa no Parlamento, mas enterrar nossas cabeças na areia obviamente não está funcionando. Precisamos reformar o tipo de atitude que temos em relação a esses tipos de sites e violência sexual e conteúdo sexual online”, finalizou.