SÃO PAULO (Reuters) – A Decolar está voltando aos níveis pré-Covid no Brasil, seu principal mercado, e planeja fazer mais aquisições no país para diversificar suas receitas, disse Alberto López Gaffney, vice-presidente da companhia, que tenta capitalizar a retomada de um dos setores mais atingidos no mundo pela pandemia.

“Nas viagens domésticas no Brasil estamos neste momento a 90% do ritmo do começo de 2020 e devemos atingir 100% até o final do ano”, disse Gaffney em entrevista à Reuters.

O grupo com sede na Argentina, e que se apresenta como maior plataforma online de turismo da América Latina, tem ampliado apostas no mercado brasileiro, responsável por um terço de suas receitas, uma vez que o aumento dos preços das passagens aéreas e a desigual flexibilização das medidas de isolamento social pelo mundo tem levado turistas a buscar destinos mais próximos.

O nível de ocupação das aeronaves tem crescido, mesmo com os ajustes nos preços das passagens aéreas, diante do repasse do aumento dos preços do combustível de aviação, disse Gaffney.

O relato é consistente com divulgações mais recentes de companhias aéreas. A Gol relatou na semana passada que a demanda por seus voos avançou 113,9% em março, sobre um ano antes, com a taxa de ocupação de suas aeronaves subindo quase oito pontos percentuais, a 79,5%.

Com a gradual melhora do cenário, a Decolar prevê voltar a ter geração positiva de caixa no fim do ano, disse ele. Após vários trimestres de consumo, no último quarto do ano passado a Decolar estancou a sangria de caixa, apoiada num crescimento de 134% das receitas ano a ano, a 124,6 milhões de dólares.

Para dar tração à retomada das receitas, a Decolar tem feito alguns movimentos inorgânicos, enquanto amplia apostas em serviços como ingressos para atrações, transfers de aeroportos, seguro viagem e aluguel de carros. Em agosto de 2020, acertou a compra da empresa de soluções online de parcelamento via boleto Koin. No começo deste ano, anunciou a aquisição de 51% da Stays, de software para reserva de aluguéis por temporada e que tem um portfólio de 17 mil imóveis de Airbnb, Booking e Expedia.

“E certamente haverá movimentos de expansão não orgânica neste ano”, disse Gaffney em entrevista à Reuters.

Movimentos mais incisivos de empresas de turismo na direção de ter um portfólio próprio de imóveis para temporada tem sido uma vertente resultante dos efeitos da pandemia. A brasileira CVC, por exemplo, assumiu em agosto passado 100% da empresa de locação de residências da VHC, que anunciou recentemente uma expansão doméstica das operações no Brasil para a Serra Gaúcha e, nos Estados Unidos, para alguns destinos incluindo o Estado do Alabama.

Ao mesmo tempo em que aproveita oportunidades criadas com o enfraquecimento do setor hoteleiro durante a pandemia, a maior participação no segmento ajuda a contrabalançar para a Decolar a fraqueza mais prolongada de segmentos que devem levar mais tempo para se recuperarem, casos das viagens internacionais e dos cruzeiros marítimos.

“O setor de cruzeiros deve ser o último segmento a se recuperar totalmente, mas esperamos que eventuais impactos negativos daqui para a frente sejam cada vez menores”, disse Gaffney.

Segundo o executivo, com a gradual reabertura das atividades em outras partes do mundo, a companhia tem percebido maior demanda por viagens para destinos como Cancún e Punta Cana, no Caribe; Orlando e Nova York, nos Estados Unidos; e Portugal, Espanha e França, dentre os destinos europeus.

“O turista brasileiro não mudou suas preferências por causa da pandemia”, concluiu ele.

(Por Aluísio Alves; Edição de André Romani)

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