Declarações duras de Galípolo elevam taxas em dia de feriado nos EUA

Em um dia sem a referência dos mercados americanos, fechados devido ao feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, declarações consideradas mais duras do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ditaram a dinâmica dos juros futuros negociados na B3 no pregão desta quinta-feira, 27.

Toda a extensão da curva futura operava em queda em relação aos ajustes, apoiada também em números mais fracos do mercado de trabalho. Mas as taxas curtas e intermediárias passaram a subir após Galípolo esfriar o otimismo sobre a proximidade de cortes da Selic. “Ele não deu ‘downplay’ na possibilidade de corte em janeiro, mas em cortar juros apenas porque os dados de curtíssimo prazo vieram melhores”, afirmou Gean Lima, gestor de portfólio da Connex Capital.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 13,523% no ajuste antecedente para 13,550%. O DI para janeiro de 2029 oscilou de 12,71% no ajuste anterior para 12,72%. O DI para janeiro de 2031 seguiu em declínio, e passou de 13,024% no ajuste para 13,010%. O vértice longo operou abaixo de 13% em boa parte da sessão, mas o patamar não se sustentou.

Ao participar de evento da Itaú Asset, o comandante do BC reiterou que a política monetária está funcionando, mas de “forma lenta em economia resiliente”, que a autarquia não pode se “emocionar” com um dado específico, e que os juros serão mantidos em nível elevado pelo tempo necessário, além de reforçar o compromisso do BC com o centro da meta inflacionária, de 3%. “Os dados continuam mostrando o que o Banco Central esperava, e novos dados não mudam a direção da política monetária”, disse.

Para Galípolo, o mercado de crédito brasileiro continua crescendo “de maneira bastante surpreendente”, tendo em vista o nível atual do juro básico, de 15%, o que demanda “vigilância e conservadorismo” na condução da política monetária.

As afirmações vieram em seguida à publicação do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de outubro, que frustrou as expectativas ao mostrar que o mercado formal gerou 85.147 vagas no mês passado, depois de 213.002 postos em setembro. O número ficou abaixo da estimativa mediana do Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado de 120.000 vagas celetistas.

“Como disse o ex-presidente do BC Roberto Campos Neto em situação semelhante no passado: ‘O Banco Central tem um plano de voo e não pode alterá-lo a cada dado de alta frequência que vem melhor que as expectativas'”, disse Lima, para quem este foi o recado que Galípolo quis passar.

Na última terça, o diretor de Política Monetária, Nilton David, provocou efeito inverso na curva, quando afirmou que uma nova alta da Selic não é mais contemplada no cenário-base da instituição, e que agora a questão é entender quando se dará o processo de afrouxamento. “Nilton já é ‘dove’ normalmente e não deu nenhum sinal. O pessoal que está muito aplicado e quis se animar”, afirmou um economista de uma grande tesouraria à Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez avalia que as declarações de Galípolo foram mais relevantes do que o Caged, que foi um “não evento” na sessão desta quinta. “Nada de novo, mas ele deu um ‘downplay em fatores que justificariam um arrefecimento, e manteve o firme compromisso da autoridade monetária com o regime de metas de inflação”, comentou.

Sobre o Caged, Sanchez aponta que o período recente foi marcado por desalinhamento entre o desempenho do saldo de vagas celetistas e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que mede a taxa de desemprego no País. O dado mais recente indicou desocupação de 5,6% no trimestre terminado em setembro, menor patamar da série histórica do IBGE.