Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada, o Banco Central dedicou um parágrafo para analisar o comportamento das expectativas de inflação entre as reuniões de maio e junho, conforme o documento divulgado nesta terça-feira, 27. Segundo o comitê, decisões que contribuam para a reancoragem das expectativas e aumento da confiança nas metas ajudam a desinflação e permitem a flexibilização monetária – algo tão desejada pelo governo.

Membros do Copom têm dito que um dos principais fatores que explicam a desancoragem, especialmente em horizontes mais longos, é a incerteza sobre a meta de inflação, em debate colocado pelo governo Lula desde o início do ano. Nesta quinta-feira, 29, o CMN se reúne e deve definir o futuro da meta inflacionária brasileira, hoje em 3% para os próximos anos.

Para o comitê, as expectativas seguem desancoradas das metas do Conselho Monetário Nacional (CMN), ainda que tenha havido “uma pequena diminuição da desancoragem na margem”. “O Comitê segue avaliando que expectativas desancoradas elevam o custo de trazer a inflação de volta à meta”, disse o BC na ata. “O Comitê avalia que decisões que reancorem as expectativas podem levar a uma desinflação mais célere.”

O colegiado ainda ressaltou novamente que o comportamento das expectativas é um aspecto fundamental do processo inflacionário, uma vez que serve de guia para a definição de reajustes de preços e salários presentes e futuros. “Assim, com a elevação de expectativas, há uma maior pressão para elevação de preços no período corrente e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas. Também foi ressaltado que a ancoragem de expectativas é um elemento essencial para a estabilidade de preços.”

Projeções no horizonte relevante

Na ata, o Banco Central listou as mudanças que ocorreram nos fatores determinantes da política monetária.

Em relação às suas projeções para a inflação, que saíram de 5,8% para 5,0% em 2023 e de 3,6% para 3,4% para 2024, foco da política monetária, o comitê avaliou que refletiram em boa medida a redução das expectativas inflacionárias, “especialmente, no horizonte relevante”.

Com relação à inflação de serviços e aos núcleos de inflação, o BC afirmou que houve movimento lento de desaceleração, em linha com o processo não linear projetado pelo comitê.

Outra mudança, no balanço de riscos, foi a consideração de que a incerteza sobre o desenho final do arcabouço fiscal é “residual”, enquanto que o risco para baixo advindo de uma queda maior dos preços de commodities “já tem se materializado no período recente”.

Hiato do produto

Em relação ao hiato do produto, o BC afirmou que não houve grande alteração no cenário prospectivo do hiato do produto, em que se projeta lenta abertura do hiato. Já sobre a atividade, o colegiado disse que houve um debate sobre a resiliência da atividade econômica no primeiro trimestre.

Mas ponderou que a visão do Comitê segue a de que o crescimento foi puxado pelo setor agropecuário e que os demais setores devem apresentar crescimento modesto ao longo do ano.

Taxa de juros real neutra

O Banco Central elevou sua estimativa de taxa de juros real neutra de 4,0% ao ano para 4,5%, conforme divulgou na ata do Copom.

Em tese, um aumento do juro neutro implica uma necessidade de um aperto monetário maior para controlar a inflação. No documento, o BC destaca que a mudança ocorreu em seguimento ao amplo debate e acúmulo de evidência ao longo das últimas reuniões.

“Os membros avaliaram os diferentes fatores que justificam uma elevação e convergiram na conclusão de que houve uma elevação da taxa neutra”, disse o BC na ata divulgada nesta terça.

Dentre os fatores citados que apoiam a elevação da taxa neutra, o Copom citou uma possível elevação das taxas de juros neutras nas principais economias, a resiliência na atividade brasileira concomitante a um processo desinflacionário lento, assim como a análise de modelos auxiliares que incorporam diferentes metodologias.

Cenário de crédito

Também na ata, o Banco Central avaliou que o cenário de concessão de crédito doméstico mostra-se compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

O colegiado antecipa que deve haver uma moderação na concessão do crédito ao longo dos próximos meses, mas similar ao que ocorreu em ciclos anteriores de alta de juros.

“O Comitê reforça que o Banco Central possui os instrumentos de liquidez apropriados e necessários, ligados à política macroprudencial, para tratar de fricções relevantes localizadas no sistema, caso ocorram”, destacou o BC na ata.