Decisão palestina de interromper relações com Israel gera dúvidas

Decisão palestina de interromper relações com Israel gera dúvidas

O presidente palestino, Mahmud Abbas, anunciou que seu governo deixará de cumprir acordos assinados com Israel, uma ameaça que os analistas questionam.

A Autoridade Palestina fez anúncios similares no passado, mas desta vez Abbas foi mais claro e direto.

“Anunciamos a decisão da direção (palestina) de deixar de aplicar os acordos assinados com Israel”, declarou Abbas na noite de quinta-feira, durante um discurso em Ramallah, Cisjordânia.

– As causas –

O anúncio de Abbas ocorreu dias depois de Israel destruir 12 residências em Sur Baher, bairro situado entre Jerusalém oriental, anexada, e a Cisjordânia.

Segundo o governo israelense, os edifícios, muitos deles em construção, estão situados perto demais do muro que divide a Cisjordânia. Abbas tachou a medida de “limpeza étnica”.

Alguns dos edifícios estão localizados em uma área que a princípio está totalmente sob o controle do governo de Abbas.

O líder palestino, de 84 anos, disse que esta ordem de derrubada era uma demonstração de que Israel não respeita os acordos.

– Quais são os acordos? –

No começo dos anos 1990, Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), na época chefiada por Yasser Arafat, assinou uma série de acordos sob os auspícios americanos.

Abbas foi uma figura-chave para negociar estes Acordos de Oslo, que levaram à criação da Autoridade Palestina, e que cobrem várias áreas de colaboração, como recursos hídricos, eletricidade, segurança e relações econômicas.

Os acordos a princípio eram transitórios, com cinco anos de duração, mas um acordo de longo prazo nunca chegou a se concretizar e no ano 2000, a segunda Intifada palestina.

Abbas assumiu o poder após a morte de Arafat em 2004 e permitiu que só usaria métodos pacíficos para reivindicar seus objetivos.

Os acordos provisórios de Oslo voltaram a ser reativados, mas paralelamente Abbas começou uma campanha para conseguir reconhecimentos diplomáticos no exterior.

Assim, a Autoridade Palestina obteve o estatuto de observador das Nações Unidas em 2012.

Romper com a colaboração mútua poderia representar um grave risco para os mais de 400.000 israelenses que vivem em colônias em meio a 2,6 milhões de palestinos.

– Por que agora? –

As relações entre o governo Abbas e o israelense piorou nos últimos meses.

Além das demolições de casas, que foram aprovadas pela Suprema Corte israelense, o governo de Benjamin Netanyahu retém a cada mês 10 milhões de dólares dos ganhos fiscais que arrecadam para a Autoridade Palestina.

Israel acusa o governo de Abbas de entregar ajuda às famílias de prisioneiros palestinos ou diretamente os que cumprem pena em suas prisões.

Estes dez milhões de dólares fiscalizados equivalem a este montante em ajudas que, segundo Israel, representam um incentivo a prolongar a violência.

A Autoridade Palestina considera estas ajudas um direito inalienável das famílias e, como resposta, decidiu rejeitar a integralidade das transferências fiscais, 180 milhões de dólares, o que mantém o governo de Abbas em uma situação crítica.

– O que pode acontecer agora? –

Autoridades palestinas já tinham proferido no passado ameaças de cortar relações com Israel.

O Conselho Central Palestino votou em janeiro passado suspender o reconhecimento de Israel, mas a decisão ainda não foi implementada.

Segundo o analista Hani al Masri, esta resolução “é uma repetição de resoluções prévias”.

“Não faz sentido falar em interromper acordos com Israel sem abordar qual seria o destino da Autoridade Palestina, nem as mudanças em sua forma de operar”, disse.