O PT só esperou o cômputo do último voto para anunciar que assumiria um papel de dura oposição. Começou a pôr em circulação um palavreado que já diz tudo: atuaria como uma “resistência”, uma trincheira de combate ao “governo de ocupação”.

Até aí, nada de novo, esse é o PT que conhecemos. Sempre foi e continua sendo um partido ambíguo, incapaz de decidir se é democrático ou antidemocrático. Mantém um pezinho dentro e outro fora da democracia, apoiando-se no que a cada momento lhe parece taticamente conveniente. Se perguntarmos a dez petistas o que é ser petista, teremos uma resposta óbvia e dez incompreensíveis. Um pouco como na Argentina: dez peronistas começarão falando sobre sua fidelidade ao legado de Perón e depois, no plano programático, farão referência a várias outras coisas desconectadas entre si. Os petistas — bingo! — começarão por Lula e depois sobre a necessidade de se oporem a “tudo o que aí está”.

Não é notável? Um dos principais partidos do país, o que fez a maior bancada na Câmara, não se compreende, não tem uma identidade definida. Nós, não petistas, temos de ajudá-los, mas nós tampouco o compreendemos. Somos, como diria Shakespeare, um cego tentando conduzir um louco.

Uma olhada nas bases eleitorais do petismo pode ser útil. Nos dois extremos da escala social, ela é claríssima. Em baixo, no Nordeste e nas periferias, os pobres, que em geral se orientam pelo bolso: a queda da inflação, nas eleições de Fernando Henrique, e depois os beneficiários do Bolsa Família, que idolatram Lula e votam em qualquer poste que identificarem como o candidato dele. Em cima, gente instruída, tipicamente a população universitária, movida por ideologias. No meio, na chamada “classe média”, gente que pende ora para um lado, ora para outro e vota ora em função do bolso, ora de valores, ora apavorada pela insegurança que assola o país. No caso dos pobres, a baixa instrução dificulta a apreensão de ideias abstratas. No segundo caso, o dos rebeldes sem causa, meio fanáticos, que só lidam muito com ideias e muito pouco com interesses concretos. No nível médio, um pouco de vários componentes, conectados mais pela situação de momento que por uma lógica de meios e fins. Essa camada segue o vento, geralmente sem perceber para onde ele sopra.

O PT, um dos principais partidos do país, o que fez a maior bancada na Câmara, não se compreende, não tem uma identidade definida. Nós, não petistas, temos de ajudá-los

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