‘Decidi obedecer’, diz cardeal condenado após desistir do conclave

O cardeal italiano condenado por desvio e despojado de seus privilégios pelo papa Francisco comunicou nesta terça-feira (29) que vai “obedecer” à decisão da Igreja de vetá-lo do conclave que elegerá o próximo pontífice.

Angelo Becciu, 76 anos, já foi uma das figuras mais poderosas do Vaticano, assessor de Francisco e chegou a ser considerado um dos nomes favoritos para assumir a liderança da Igreja Católica, mas uma operação imobiliária opaca em Londres o levou à Justiça e ao ostracismo clerical.

“Tendo no coração o bem da Igreja, à qual servi e continuarei servindo com fidelidade e amor, assim como para contribuir com a comunhão e a serenidade do conclave, decidi obedecer como sempre fiz”, afirmou o cardeal em comunicado enviado à AFP por seu advogado.

Becciu defende sua inocência. Ele insistia que era seu dever participar da eleição do futuro papa, que começará em 7 de maio, apesar de não estar na lista oficial de eleitores: o italiano ainda tem o título de cardeal e participa das reuniões preparatórias do conclave.

O cardeal Pietro Parolin, por anos o número dois no Vaticano, apresentou a Becciu dois documentos assinados pelo pontífice argentino que confirmam que ele não poderia participar.

A primeira carta com data de 2023 e outra do mês passado, segundo o jornal Domani.

A queda de Becciu ocorreu em meio a uma série de reformas estimuladas por Francisco para limpar as notoriamente turbulentas finanças do Vaticano. Ele foi condenado a cinco anos e meio de prisão por fraude em operações financeiras da Santa Sé.

Becciu é o principal dirigente da Igreja Católica a enfrentar o Tribunal Penal do Vaticano, a justiça civil da cidade-Estado.

O caso envolveu a compra de um edifício de luxo em Londres que manchou a imagem da Igreja e destacou o uso imprudente do Óbolo de São Pedro, a grande coleta anual de doações destinadas às ações de caridade do papa.

Também gerou perdas substanciais para as finanças do Vaticano.

Becciu era então prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. O papa o obrigou a renunciar e retirou seus privilégios de cardeal em 2020.

Antes, o italiano foi o número dois da secretaria de Estado entre 2011 e 2018, cinco anos sob Parolin, considerado por muitos como o principal candidato ao papado.

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