Debate não muda voto de indecisos, aponta especialista

SÃO PAULO, 29 OUT (ANSA) – O último debate entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), realizado na noite desta sexta-feira (28), não deve causar uma mudança nos resultados do segundo turno das eleições presidenciais deste domingo (30).   

A constatação é do cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Prando, que ressalta que apesar de sempre ter defendido que “os debates são um dos pontos altos da democracia”, a situação atual mostra que eles causam pouco efeito.   

“Quando você tem um debate alicerçado sobre os ataques pessoais, sobre fake news, sobre teorias da conspiração, por exemplo, você acaba intoxicando o debate naquele momento e no geral. O debate público foge da racionalidade e busca capturar o eleitorado e a atenção das pessoas para emoção, para as paixões.   

E aí me parece que o debate tem servido exclusivamente para gerar memes, lacração para as redes sociais e para as campanhas dos candidatos”, destaca à ANSA.   

Para Prando, “se você reparar – e especialmente o Bolsonaro é muito bom nisso – ele para, usa frases de efeito, frases que são animadoras de sua militância e é orientado a fazer isso de maneira a produzir conteúdo para as redes sociais”.   

“Eu tenho que admitir que, do começo dessa eleição para agora, a minha perspectiva analítica mudou porque quando você tem no debate figuras populistas, e especialmente uma figura como o Bolsonaro, que é muito próximo de [Donald] Trump nos Estados Unidos, e é uma metralhadora de fake news, […] o debate acaba se tornando um espaço diminuído, um espaço em que você não consegue, por exemplo, chegar no indeciso”, acrescenta.   

Apesar de chamar ambos de populistas, Prando faz uma ressalta porque eles “não são iguais”.   

“Bolsonaro atacou sistematicamente a democracia e as instituições e o Lula, pelo menos, se coloca distante desses arreganhos autocráticos que o Bolsonaro nunca escondeu. Então não é novidade para ninguém no Brasil ou fora do Brasil esse tipo de conduta do Bolsonaro, a ponto do mundo estar olhando as eleições brasileiras com muita atenção”, pontua ainda.   

“De qualquer maneira, o debate aconteceu e o impacto na eleição de amanhã me parece reduzido. No fundo, a polarização e a convicção daqueles que votam em Lula ou Bolsonaro estão muito consolidadas”, finaliza.   

Durante o debate realizado pela TV Globo, Lula e Bolsonaro trocaram acusações pessoais como atual mandatário chamando o petista de “mentiroso” e “bandido” e Lula rebatendo classificando o presidente de “descompensado”. Também debateram temas como a pandemia de Covid-19, o aumento da fome e até a compra de Viagra pelos militares.   

No primeiro turno do pleito, realizado em 2 de outubro, Lula ficou à frente com 48,43% dos votos (pouco mais de 57,2 milhões). Bolsonaro obteve 43,20%, cerca de 51 milhões de votos.   

As pesquisas de intenção para o segundo turno mostram um resultado semelhante, com os dois candidatos próximos. (ANSA).