Há uma expressão bastante surrada no mundo corporativo, que fala em jogo de “ganha x ganha”. Anos atrás, um cliente muito importante zombava dessa lógica. Sócio do pai nas empresas, ele sempre me dizia enquanto negociávamos um pedido: “Ricardo, o negócio tem de ser bom para os dois lados: o meu e o do meu pai”. E caía na gargalhada.

Vejo o debate desta noite, na Rede Globo, entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva, mais ou menos assim. Um negócio que precisa ser bom para os dois lados (deles), para levarem vantagem sobre a outra parte do negócio (nós). No que deveria ser um jogo de “ganha x ganha”, em que eleitores e candidatos colheriam lucros, teremos um “perde x perde”.

Em vantagem nas pesquisas, o chefão petista jogará na retranca, para não perder. O empate, em tese, lhe garantirá a vitória e o título, no caso, a eleição. Porém, não há nada que diga, ou que o amigão do Queiroz diga, que possa lhe trazer mais eleitores. Se o presidente confessar que mata ursos pandas bebês, ainda assim não perderá votos.

Para Lula, portanto, é um jogo de “perde x perde”. Se Bolsonaro errar, nada muda. Se ele errar, tudo pode mudar. Tem de torcer, então, e treinar e ensaiar muito bem, para errar o menos possível e conseguir convencer a audiência de que suas promessas e análises do passado não são meras mentiras. A mim, como todos sabem, não me convence.

A situação do patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, compradas com panetones de chocolate e muito dinheiro vivo, é ainda pior. A ele não basta empatar, tem de vencer, ou melhor, golear. E qualquer mínimo descuido – que irá cometer às pencas – lhe custará a remota, mas ainda existente, possibilidade de virada e, portanto, o Planalto.

O eleitorado de Bolsonaro é forte, firme e cativo. Repito: diga o que disser, não perderá votos. O diabo, para ele, é que precisa ganhar, e aí, a meu ver, cai no mesmo jogo de “perde x perde”, pois tal possibilidade é ínfima, senão inexistente. Se Lula confessar que não foi inocentado porcaria nenhuma, nada mudará para o devoto da cloroquina.

Especialistas em opinião pública, analistas políticos do bons e gente séria da política – sim, existe! – com quem falei garantem que o debate tem importância fundamental na decisão do eleitor menos convicto. Bom, se esses caras falam, ainda que eu não tenha a mesma certeza, não apenas acredito como levo em conta para a minha análise.

Nessa linha, alguns milhões de votos “flutuantes” poderão ser decisivos para a vitória ou a derrota de um dos dois candidatos. Para nós, o povo, continuará sendo um jogo de “perde x perde”, pois perdemos sempre. Contudo, a escolha de domingo passará, dentro deste contexto de perdas, por quais delas serão as piores. Para mim, não há dúvidas.

Eu, Ricardo Kertzman, já disse e repito: não votarei em nenhum destes dois péssimos e danosos candidatos, mas torço, com todas as minhas forças, pela derrota de Jair Bolsonaro, ainda que me custe, como tenho dito, assistir ao terceiro pior político vivo do Brasil governar o País outra vez. O primeiro? José Sarney – pai de tudo que aí está.