A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) realizou um debate sobre a população negra e a representatividade na política nessa quinta-feira 17. Nele, foi apresentada uma pesquisa feita pelo Painel BAP em que pessoas negras responderam sobre pautas, candidatos e partidos políticos que mais os representam. O levantamento foi feito online, entre os dias 17 e 27 de novembro de 2017, na cidade de São Paulo, e foram ouvidos 1.067 eleitores. O nível de confiança da pesquisa é de 95%.
Na pesquisa, é possível observar algumas importantes questões do eleitorado negro. Um exemplo é que 64% dos entrevistados de 25 a 34 anos disseram ser de direita, enquanto 27% de 5 a 59 anos afirmaram ser de esquerda. Outra questão que salta aos olhos na pesquisa é que 37% dos entrevistados afirmaram que nenhum partido os representa. Em segundo lugar, aparece o PT, com 30%.
Sobre a falta de negros na política, 62% das pessoas ouvidas afirmaram que o principal motivo para que isso aconteça é o racismo estrutural. Quando o assunto é políticos negros conhecidos, 64% disseram que conheciam algum representante afro-descendente. A mais citada (23%) foi a deputada estadual Leci Brandão (PCdoB), que realizou o debate, juntamente com o portal Alma Preta.
A pesquisa também questionou a população negra sobre os maiores problemas da capital de São Paulo. Em primeiro lugar, apareceu a educação. Em seguida, a saúde e, em terceiro lugar, a segurança.
O debate, que mediado por Renata Rosa, diretora nacional da União de Negras e Negros Pela Igualdade (Unegro), contou com a participação do professor Juarez Xavier, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e da socióloga Mariana Antoniazzi, do painel que realizou a pesquisa.
Depois de apresentar os dados da pesquisa, Mariana afirmou que se pode observar que os jovens estão mais conservadores que os mais velhos. Para mostrar a importância da pesquisa, ela afirmou que nunca foi feito um levantamento que pudesse dar voz a afros descendentes.
O professor Xavier disse que discutir a questão da representatividade em São Paulo é desafiador e que a pesquisa é importante para romper com o monopólio da informação. Segundo ele, o grande número de jovens conservadores pode ser explicado pelo fato de que, “à medida que o Estado não muda, vai ter um distanciamento [do jovem das pautas progressistas].” De acordo com o professor, o racismo estrutural não foi capaz de desmontar a máquina que se formou.
Para Xavier “a questão racial ainda é vista no Brasil como um penduricalho” e, na verdade, ela é fundamental para que o Estado consiga tratar a população com igualdade. “Não é uma questão de minoria”, afirmou.
O debate teve duração de mais de três horas e contou com três rodadas de perguntas de jornalistas e internautas que acompanharam a conversa. Por fim, a deputada Leci Brandão fez um emocionado discurso sobre a importância da diversidade e representatividade na política. “Eu às vezes vou lá ao púlpito e eu falo ‘eu sou papo reto’. Eu estou ofendendo alguém? Eu tenho o meu comportamento”, afirmou.
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