O sorteio definiu que o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro ficariam lado a lado no debate, mas suas equipes pediram que eles mudassem de lugar. Isso não alterou em nada a dinâmica entre eles: o debate da Band, na noite de domingo, foi um festival de farpas trocadas ao longo de suas três horas, o que já era esperado. O que foi surpreendente foi o desequilíbrio do presidente ao comentar um questionamento da jornalista Vera Magalhães sobre a baixa vacinação no Brasil.

A jornalista havia feito a pergunta a Ciro Gomes, mas, na sua vez, Bolsonaro perdeu a compostura: “Vera, eu não podia esperar outra coisa de você. Eu acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Fazer acusações mentirosas a meu respeito, você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro.”

O ataque repercutiu e fez Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) saírem em defesa de Vera. Soraya, inclusive, fez uma provocação ao lembrar do Youtuber que chamou Bolsonaro de ‘tchutchuca do Centrão”: “quando homens são ‘tchutchucas’ com outros homens, mas vêm em cima da gente sendo ‘tigrão’, eu fico incomodada, fico brava, sim”, disse a candidata do União Brasil.

Bolsonaro tem enfrentado uma forte rejeição por parte do eleitorado feminino. O debate apenas confirmou seu desprezo pelas mulheres. Durante a campanha, a decisão de escalar sua mulher, Michelle, para conquistar esse público demonstra apenas que trata-se de uma estratégia política, sem a menor conexão com a realidade. Quando emerge sua verdadeira personalidade, de forma espontânea, o presidente não consegue conter sua misoginia.

Logo no início, Bolsonaro atacou Lula de forma esperada, acusando o petista pela corrupção na Petrobras. Chamou Lula de “ex-presidiário” e lembrou a delação do ex-ministro Antonio Pallocci. Lula respondeu dizendo que a corrupção só apareceu porque ele deu liberdade e autonomia para as polícias, o que não acontece hoje, uma vez que Bolsonaro coloca sigilo de cem anos nos episódios que levantam suspeitas. Apesar da resposta ter sido razoavelmente efetiva, Lula não repetiu ao longo do debate o desempenho na entrevista no Jornal Nacional, na última quinta-feira. Parecia cansado, e sua voz rouca soava, em algumas ocasiões, incompreensível.

O debate não trouxe exatamente novidades. Já tínhamos visto Bolsonaro acuado e agressivo na entrevista do Jornal Nacional, assim como já Lula também já havia se defendido de corrupção com os mesmos argumentos diante de William Bonner e Renata Vasconcellos. Ciro Gomes e Simone Tebet tiveram participação incisiva contra os dois líderes, com ligeiro destaque para ela, que mostrou firmeza em diversos assuntos; Soraya e Luiz Felipe D’Ávila foram apenas coadjuvantes corretos.

A verdade é uma só: ao ser eleito, qualquer um dos dois candidatos que lideram as pesquisas manterá a polarização violenta que vivemos hoje e que prejuízos traz à população. A famosa “terceira via”, tão desejada por parte do eleitorado consciente, não terá tempo de se tornar realidade até 2 de outubro. Será mesmo uma eleição definida pela rejeição, uma disputa entre o anti-petismo e o anti-bolsonarismo, em vez de ser a favor do Brasil. Quem perde, mais uma vez, é o País.