Quem acessou a lista de lançamentos das plataformas digitais nos últimos dias deve ter pensado que entrou sem querer na máquina do tempo do filme “De Volta para o Futuro” e foi transportado para algum lugar do passado: títulos como “E.T., o Extraterrestre” e “Indiana Jones” estão em destaque nos serviços de streaming. A novidade agora é que, em meio à febre dos remakes, surgiu outra tendência: os reboots, sequências de filmes bem sucedidos dos anos 1980 com enredos ambientados nos dias de hoje.

“Olá, amigos, vocês querem se sentir velhos? Eu fiz 40 anos.” Macaulay Culkin, astro de “Esqueceram de Mim”, ironiza os fãs nas redes sociais (Crédito:Divulgação)

O representante mais emblemático é “Cobra Kai”, reboot de “Karate Kid” , um dos maiores sucessos daquela década. Depois de duas temporadas exibidas no Youtube Red, a série que retoma a rivalidade entre Daniel ‘San’ Larusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka) foi comprada pela Netflix e é atualmente a mais vista da plataforma no Brasil. O curioso da nova abordagem é que o foco está no vilão do filme original, o garoto Johnny, personagem que perde o título do campeonato de caratê para o mocinho, Daniel. Com essa abordagem, livra-se um pouco do maniqueísmo original, deixando a dinâmica entre os personagens mais interessante e (um pouco) menos previsível. Ao trazer o conflito de 1984 para os dias atuais, “Cobra Kai” conquista os quarentões com sua enxurrada de referências, assim como apela às novas gerações com um tom politicamente correto adequado aos novos tempos. O resultado positivo veio rápido: menos de um mês após a estreia, a Netflix já anunciou sua terceira temporada.
Para quem acessa a plataforma Apple TV+, a impressão é semelhante ao se deparar com “Bill e Ted: Encare a música”. O filme estrelado por Keanu Reeves e Alex Winter é a continuação de “Bill e Ted: Uma aventura fantástica”, de 1989. O número de críticas positivas em veículos da mídia como “The New York Times” e CNN surpreendeu o mercado, ainda mais quando lembramos que o filme era considerado apenas uma bobagem de adolescente. Há, com certeza, uma boa dose de nostalgia que amplifica esse entendimento. Outro reboot que vai agradar aos saudosistas está finalizado, mas teve a estreia adiada devido à pandemia. “Caça-Fantasmas: Mais Além” atualiza a comédia dirigida por Ivan Reitman em 1984, com uma dose de ironia atrás das câmeras: o filme é dirigido por seu filho, Jason Reitman.

A onda não impediu a indústria de embarcar em remakes do mesmo período, lista que não para de crescer. Já foram anunciadas, entre outras, refilmagens de “Splash – uma sereia em minha vida” (em gênero invertido, com o ator Channing Tatum no papel de “sereio”); “Scarface”, com Diego Luna interpretando o personagem eternizado por Al Pacino, em 1983; “Highlander – O Guerreiro Imortal”, dirigida por Chad Stahelski, de “John Wick”; e “Flash Gordon”, com direção de Taika Waititi, de “Thor Ragnarok”.

Uma dos remakes mais aguardados é “Duna”, dirigido originalmente por David Lynch, em 1984. À frente do clássico de ficção científica está Denis Villeneuve, diretor que deu o pontapé inicial na moda dos reboots em 2017, por meio de “Blade Runner 2049”. Com Ryan Gosling e Harrison Ford, a sequência tardia de “Blade Runner, Caçador de Andróides”, dirigido por Ridley Scott em 1982, foi indicada a cinco Oscars, vencendo os prêmios de Fotografia e Efeitos Visuais.

Revival musical

É erro imaginar que a valorização da cultura oitentista está restrita ao cinema. A indústria musical também vê a década com bons olhos. O lançamento do novo álbum do Erasure, um dos melhores da carreira da banda formada em 1985, é prova de que os artistas da época ainda têm relevância em um mundo dominado por millennials. “The Neon” é um dos melhores álbuns do ano: com um som repleto de auto-referências, as melodias vocais e os refrões grudam agradavelmente aos ouvidos. “Esse retorno ao estilo do início da nossa carreira não foi uma decisão consciente”, afirma Andy Bell, do Erasure. “Não quero voltar ao passado, mas a cena musical dos anos 1980 era incrível. Tenho saudade das festas, da liberdade. Muitos artistas surgiram em Londres nessa época. Vendíamos muitos discos, a vida era uma celebração. Hoje você toca milhões de vezes nas plataformas digitais e não ganha nada.” Bell acredita, no entanto, que muita coisa melhorou. “Hoje o mundo é muito mais aberto, a juventude é linda. Fora a desilusão provocada pelas redes sociais, há muitas almas boas e muita inocência à solta por aí.”

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail
“Não quero voltar ao passado, mas a cena musical dos anos 80 era incrível” Andy Bell, vocalista do Erasure (Crédito:Divulgação)

Outro nome dos anos 1980 que voltou foi a banda escocesa The Waterboys, famosa graças ao megasucesso “The Whole of the Moon”. O novo álbum, “Good Luck, Seeker”, já é considerado um dos destaques do ano por publicações especializadas como Uncut e Mojo. Há ainda álbuns novos de Gloria Estefan (“Brazil 305”, homenagem ao público brasileiro), Pet Shop Boys (“Hotspot”), Richard Marx (“Limitless”), Psychedelic Furs (“Made of Rain”), Pretenders (“Hate for Sale”)… a lista é grande, e vai crescer ainda mais com os já previstos lançamentos de bandas como New Order e Midnight Oil.

Não são apenas os artistas populares na época que remetem à década de 1980. Novos talentos que bebem abertamente dessa influência também estão aproveitando a maré alta. Quem ouve “Blinding Lights”, hit do cantor The Weeknd que venceu o prêmio da MTV no domingo 30, parece estar assistindo a uma reencarnação de Michael Jackson. A rebeldia de estrelas como Dua Lipa e Lady Gaga não é tão diferente das polêmicas em que Madonna se metia. Assim como o cinema e as séries, a música anda em ciclos – e agora parece que chegou a vez da década de 1980. Quem viveu poderá reviver o período. Quem não estava lá, agora terá a oportunidade, pelo menos, de ter um gostinho de tudo o que aconteceu.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias