O bom filho a casa torna. No entanto, quando o assunto em questão é o espaço, a casa, digamos, não fica logo ali — e voltar nem sempre é fácil. Por isso, desde que o homem pisou pela primeira vez na Lua, em 1969, não foram muitas as vezes em que se conseguiu novamente caminhar pela superfície lunar. Agora, passado mais de meio século que Neil Armstrong colocou, em todo o mundo, ao menos quatrocentos milhões de pessoas diante da televisão para assistirem aos seus pés tocando o solo de nosso satélite natural, a Nasa está cada vez mais próxima de promover um novo voo tripulado à Lua. Detalhe: apesar de a viagem já ser conhecida, a Nasa pretende, de maneira inédita, levar uma mulher – fato que também entrará para a história da humanidade. Na semana passada, os cientistas americanos completaram o teste com o foguete que integrará essa missão, denominada Artemis. Trata-se de um Boeing (apenas no nome, nada tem a ver com o conhecido avião). Ele passou pela derradeira prova: seus quatro motores permaneceram ligados por cerca de oito minutos. Tudo isso foi realizado no estado do Mississipi. Esse é o último passo para o lançamento. “O SLS é o foguete mais poderoso que a Nasa já construiu”, diz o administrador da agência Steve Jurczyk. “É uma obra incrível de engenharia e única capaz de viabilizar a próxima geração de missões americanas”.

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Há mais de meio século, os pés de Armstrong tocaram a superfície lunar em um espetáculo que engrandeceu a ciência. A Lua era o limite. Marte? Uma aventura só dos livros de ficção

Por que retornar à Lua depois de tantos anos, estudos e descobertas? Por que retornar à Lua no momento em que já nos preparamos para pousar em Marte? A resposta é a seguinte: a missão Artemis tem um objetivo mais amplo que fazer seus astronautas darem somente alguns saltos no chão lunar — embora, como o próprio Armstrong declarou à época, aquele pequeno salto significou “um grande passo para a humanidade”. A ousada ideia, agora, é construir uma base permanente. Ou seja: um lugar no qual será permitida a manutenção e o abastecimento de outras aeronaves, que terão, pela frente, um caminho ainda muito mais longo — ou seja, Marte. E, assim, fecha-se o raciocínio iniciado com as duas indagações feitas acima. Também será instalada uma estação especial, a Gateway, que ficará diuturnamente orbitando a Lua a fim de facilitar a chegada de outras cápsulas. Tudo isso para que a grandiosa viagem tripulada a Marte não seja somente um sonho, mas, sim, uma possibilidade cada vez mais concreta. A empreitada tem dois grandes concorrentes: Rússia e China. Em aliança inédita, os dois países acabaram de assinar um acordo para chegarem à Lua em conjunto — claro que isso implica disputa tecnológico e de hegemonia, lembrando inclusive algumas pitadas dos tempos da guerra fria. “É uma disputa de quem vai ser visto, cá na Terra, como a nação mais desenvolvida”, diz o astrofísico do Observatório do Valongo da UFRJ, Gustavo Porto de Mello. “Nesses termos, essa nova chegada à Lua não fica devendo nada para a primeira missão no âmbito da corrida espacial”.

PODEROSO O foguete da missão Artemis “descansa” para sua grande missão: atraso de três anos (Crédito:Divulgação)

Como essas missões não necessitam somente de inteligência e persistência no campo científico, a Nasa enfrenta algumas dificuldades. Uma delas, e bem importante, é o orçamento que está estourado em US$ 3 bilhões; a outra diz respeito ao lançamento: encontra-se atrasado em três anos. Até então, a Nasa cravava que o homem voltaria à Lua em 2024. Hoje, acredita-se que tal prazo é inviável. Estima-se, no entanto, que, ao menos até o final desse ano, uma outra cápsula, chamada Orion, orbite a Lua e retorne à Terra. Para os pesquisadores, esse tipo desse voo, não tripulado, já é rotina. É como se não passasse de uma brincadeira de videogame espacial.