Poucos nomes evocam o espírito do glamour e da rebeldia francesa como Brigitte Bardot. A loira de cabelos selvagens e olhar cativante foi a musa que personificou a sensualidade e a liberdade da França no período pós-guerra. Por trás de uma beleza deslumbrante, havia uma atriz que se destacava diante das câmeras, mas que também virou celebridade mundial graças a seus tumultuados relacionamentos. Poderosa e segura de si, Bardot teve uma trajetória que desafiou todas as convenções de sua época. O resgate dessa pioneira do feminismo, que desafiava regras e vivia como queria, é o centro da minissérie Bardot, estrelada pela atriz revelação Julia de Nunez e um dos destaques do Festival Varilux de Cinema Francês.

Filha de pai argentino e mãe francesa, a semelhança entre as duas impressiona desde a primeira cena. “Costumava ser parada na rua quando era mais nova. Até minha família brincava com isso, me presenteavam com pôsteres dela. Acho que temos uma conexão”, afirmou a atriz de 23 anos à ISTOÉ.

Danièle Thompson, que codirigiu os seis episódios com o filho Christopher, lembra que, entre as dezenas de candidatas ao papel, Julia se fez notar não apenas pelo lado físico, mas pelo temperamento: “Para interpretar Bardot dos 15 aos 26 anos, procurávamos uma atriz capaz de ilustrar sua evolução, ou seja, uma adolescente doce que de repente se transformaria numa femme fatale”.

O elenco traz ainda um outro jovem promissor: Victor Belmondo, neto do ator Jean-Paul Belmondo, de O Magnífico, interpretando Roger Vadim, marido de Bardot.

Julia conhecia os filmes da atriz, mas não era familiarizada com o lado mais transgressor de sua carreira. “Não sabia como ela havia sido tão importante como feminista”, disse. “Só então compreendi como seu impacto político e histórico foi enorme até mesmo sobre a minha geração. Mesmo sem ser militante, a liberdade emanava do seu jeito de ser, tão livre que acabou contagiando as outras mulheres.”

Femme fatale

Nascida em 28 de setembro de 1934, em Paris, Brigitte Anne-Marie Bardot cresceu em uma família de classe média e mostrou desde cedo talento para o balé.

Na adolescência, sua beleza a levou ao mundo da moda. Aos 15 anos, já era uma modelo de renome, desfilando para as maiores grifes da época.

Ao conhecer o roteirista e diretor Roger Vadim, porém, sua vida mudou: o casal, que já mantinha um relacionamento proibido pela família desde que ela era menor de idade, levou a parceria às telas.

O resultado foi E Deus Criou a Mulher, uma obra revolucionária pela estética e sensualidade. Bardot interpreta Juliette, jovem órfã que seduz todos os homens ao seu redor, causando um escândalo em uma pequena cidade costeira.

A performance de Bardot e a direção de Vadim desafiaram as normas da época e consolidaram a reputação como um casal rebelde. O problema, pelo menos para Vadim, é que a atitude sedutora da atriz extrapolava as filmagens. Apesar do suposto relacionamento aberto, o casal se separou quando a atriz traiu o marido com o ator Jean-Louis Trintignant, com quem contracenava.

Bardot seguiu a carreira como uma das mais bem-sucedidas atrizes do cinema mundial, mesmo se mantendo distante de Hollywood. Trabalhou com diretores como Jean-Luc Godard, Louis Malle e Henri-Georges Clouzout, mas seu status de celebridade, que atraia holofotes para os relacionamentos pessoais, a acompanhou por toda a vida.

Teve diversos casamentos: com o ator Jacques Charrier, seu companheiro em Babette vai à Guerra, teve seu único filho, Nicolas, que abandonou com o pai após a separação.

Casou-se então com o milionário alemão Gunter Sachs e com o conselheiro político Bernard D’Ormale, com quem vive até hoje em Saint-Tropez, no sul da França.

Abandonou a rebeldia e declarou-se conservadora, apoiando a líder de extrema-direita Marine Le Pen. Passou a se dedicar à defesa dos animais e a viver reclusa.

Os brasileiros, porém, vão sempre se lembrar da visita que ela fez ao balneário de Búzios, no litoral carioca, ocasião em que atraiu a atenção do mundo inteiro para o local. Ganhou uma estátua por isso, que segue eternizada em bronze, de frente para o mar fluminense.

Destaques do Festival Varilux

E Deus Criou a Mulher (1956)

De rebelde a conservadora, Brigitte Bardot segue ícone da liberdade
(Divulgação)

Dirigida por Roger Vadim, seu marido à época, Bardot interpreta Juliette, mulher sedutora que enlouquece os homens em um pequeno vilarejo no sul da França

A Verdade (1960)De rebelde a conservadora, Brigitte Bardot segue ícone da liberdade(Divulgação)

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, a produção de Henri-Georges Clouzot narra o julgamento de uma mulher acusada de matar o marido

O Desprezo (1963)

De rebelde a conservadora, Brigitte Bardot segue ícone da liberdade
(Divulgação)

Série de mal-entendidos leva um roteirista a se separar da mulher. No clássico de Jean-Luc Godard, a estrela atua ao lado de Jack Palance e do mestre Fritz Lang