A mudança ministerial que Bolsonaro acaba de fazer, com a ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil, tem curto prazo de validade. Vai durar menos de nove meses. Em abril, com a desincompatibilização, pelo menos 12 dos 23 ministros deverão deixar o governo para serem candidatos em 2022. Dessa forma, o presidente terá que promover nova reforma no ministério para tocar o resto do governo. Tereza Cristina (Agricultura) deverá ser candidata ao governo do Mato Grosso do Sul. Enquanto isso, Fábio Faria (Comunicações) poderá disputar o governo do Rio Grande do Norte ou uma vaga no Senado, numa dobradinha com Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), que também pensa em concorrer a um dos dois cargos no RN. Já Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) pode concorrer ao governo de São Paulo.

Brasília

Outros ministros devem disputar cargos eletivos em Brasília. Flávia Arruda (Secretaria de Governo) estuda concorrer ao governo do DF, cargo que já foi ocupado por seu marido José Roberto, ou tentar a reeleição como deputada. Se disputar a Câmara, poderá ter a concorrência de Damares Alves (Direitos Humanos) e de Anderson Torres (Justiça).

Fracasso

Onyx Lorenzoni (Trabalho) faz campanha para governador do Rio Grande do Sul. João Roma (Cidadania) deve deixar o DEM para enfrentar seu mentor ACM Neto pelo governo da Bahia. Até Marcelo Queiroga (Saúde) quer administrar a Paraíba. O risco é da maioria não se eleger e deixar o fracasso na conta de Bolsonaro.

Um defensor da cloroquina

Jefferson Rudy

Com a saída de Ciro Nogueira, o senador Luís Carlos Heinze (PP-RS) assumirá seu lugar na CPI da Covid. O governo ganha, assim, um defensor da cloroquina no combate ao coronavírus, contrariando a ciência. Além de negacionista, Heinze foi alvo de investigações na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Ficou conhecido também por atacar quilombolas, índios, gays e lésbicas: “São tudo o que não presta”.

Retrato falado

“Braga Netto tem que ser exonerado o quanto antes” (Crédito:Edilson Rodrigues)

O senador Renan Calheiros, relator da CPI da Covid, defendeu a demissão do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, após o general ter dito que sem o voto impresso não haverá eleições em 2022. “As declarações
de Braga Netto, irresponsáveis e inconsequentes, ofendem a Constituição. Ele tem que ser removido do posto que ocupa.” Para o senador, a democracia brasileira foi alvo de uma gravíssima ameaça: “O Brasil não pode se sujeitar ao capricho de mantê-lo onde está” .

Juros em alta

Economistas respeitados estão prevendo que o Copom, do BC, deverá elevar a taxa básica de juros na reunião de agosto, de 0,75% a 1% (hoje a Selic está em 4,25%), para inibir o consumo e deter o crescimento da inflação. Ou seja, os juros aumentarão consideravelmente, mas a medida é necessária. A inflação não para de subir. Em julho, a taxa inflacionária deve ficar em 0,90%. O IPCA-15, que é uma prévia do índice oficial, ficou em 0,75% — a maior variação para o mês de julho desde 2004 —, elevando a inflação para 8,59% em 12 meses. Uma das mais altas dos últimos anos, graças aos aumentos da gasolina, dos alimentos, dos serviços e da má gestão de Guedes na economia.

Conta de luz

A grande vilã foi a conta de luz, que subiu 4,79% em julho, por conta da crise energética provocada pela estiagem. Para evitar o apagão, o governo aumentou o uso das termoelétricas, encarecendo o custo da energia elétrica. E vai piorar: até novembro, as térmicas ligadas custarão mais R$ 3,6 bilhões.

PT ajuda Ciro

O governador Wellington Dias contribuiu, sem querer, para a ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil. Acontece que o senador soube, pelo “Diário Oficial”, que Guedes liberou R$ 800 milhões para o Piauí, administrado pelos adversários petistas. Ciro, que pretendia ser candidato ao governo do Estado, ficou furioso e ameaçou romper com Bolsonaro.

Joao Allbert

Férias no México

Como era véspera do recesso parlamentar, Ciro viajou de férias para o México disposto a não defender o governo na CPI da Covid. Seis dias depois, o presidente lhe telefonou oferecendo o ministério. Ele topou, claro. Agora, como presidente do PP, o senador ofereceu a legenda a Bolsonaro para disputar a reeleição e pode até ser seu vice.

Mamãe querida

Divulgação

Ciro Nogueira, portanto, vai ter que se licenciar do Senado, onde está há 11 anos. Sua vaga, contudo, continuará em família. É que sua primeira suplente é Eliane e Silva Nogueira Lima, 72, que vem a ser sua própria mãe, que também é filiada ao PP. Ela não tem experiência política, mas certamente o filho tem muito a lhe ensinar. O mandato só termina em 2026.

Toma lá dá cá

Ubiratan Cazetta, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) (Crédito:Pedro Ladeira)

O que achou de Bolsonaro ter reconduzido Aras para a PGR?
Defendemos que a indicação do PGR a partir de uma lista tríplice é o modelo mais transparente e democrático. Não se trata de uma oposição ao nome de Augusto Aras, mas é a defesa de um modelo mais coerente.

Isso pode prejudicar a autonomia do MPF?
A observância da lista tríplice garante um filtro inicial quanto àqueles que pretendam ocupar o cargo e esse processo certamente fortalece a autonomia do PGR.

Como avalia o trabalho da PGR nos últimos dois anos?
A atuação tem adotado uma visão mais conservadora. Suas manifestações podem ser objeto de crítica a partir da fundamentação que adota, mas isso faz parte do processo de qualquer agente estatal.

Rápidas

* Curado da Covid, o governador João Doria quer mostrar força na reinauguração do Museu da Língua Portuguesa neste sábado, 31, em São Paulo. Deverão comparecer os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Temer, além dos presidentes de Portugal e Cabo Verde.

* O enfraquecimento de Bolsonaro tem assanhado o ex-juiz Sergio Moro a pensar novamente em disputar a presidência: vai dar uma resposta se topa ao Podemos até novembro. Por enquanto, está advogando em Washington.

* O apresentador Luciano Huck, que desistiu de ser candidato a presidente, vai assumir o “Domingão” no lugar de Faustão, no próximo dia 5 de setembro. Ele diz que deseja continuar participando das discussões sobre o Brasil.

* Um mês depois de deixar o governo, Ricardo Salles mantém em suas redes sociais as antigas credenciais. Tanto no Instagram quanto no Twitter ele continua se apresentando como ministro do Meio Ambiente.